Se tem alguém que merece o meu respeito eternamente, este alguém é John Ronald Reuel Tolkien. O criador da Terra-Média e escritor de “O Hobbit” e “O Senhor dos Anéis” causou uma revolução sem precedentes no entretenimento, tendo praticamente popularizado a fantasia medieval na literatura.
Depois dele, vieram os RPGs de mesa, RPGs de videogames, novos livros, filmes. Se ele não existisse, acho que seria difícil termos Harry Potter, Final Fantasy e Dungeons and Dragons. Tolkien criou um mundo muito rico em detalhes, e a “Guerra do Norte” é o mais novo capítulo baseado neste universo.
Criado pela Snowblind Studios e produzido pela Warner, Guerra do Norte (War in The North) se passa durante os eventos do Senhor dos Anéis, mas numa busca paralela e em outros locais, visitando outros personagens e outras aventuras. O game foi lançado recentemente para PC, Xbox 360 e PS3. A versão testada é a do Playstation 3.
Antes de falar do enredo, o primeiro ponto positivo deste game é justamente a localização. Aqui no Brasil o jogo teve localização quase total: menus, legendas, itens e armas estão em português do Brasil, facilitando muito o entendimento da história. Só não tivemos dublagem, talvez pelos custos envolvidos e pelos problemas que apareceram em alguns dos jogos que tivemos dublagens, como inFAMOUS 2 e Uncharted 3. Foi uma decisão acertada da Warner ter apenas as legendas e os menus/itens. O único ponto bizarro nesse quesito é que a listagem de troféus está em inglês.
Quanto ao enredo, os acontecimentos passam durante a “Jornada do Anel”, mas em outros locais. Temos uma comitiva com Farin (um anão), Éladan (um humano) e Andriel (elfa) para cumprir algumas ordens de Aragorn e irem atrás de Agamdáur, um servo de Sauron que quer conquistar os reinos do Norte. Você começa em Bri, o vilarejo perto do Condado onde Frodo e seus amigos encontram Aragorn. Lá você encontra o próprio Aragorn, que pede a eles que vão para Fornost, um local próximo, para distrair os inimigos enquanto ele se encarrega de levar Frodo pra bem longe de lá. Em Fornost você liberta Beleram, uma das águias gigantes que estão do lado do bem e que vai ser um “ajudante extra” em certos trechos.
Você irá passar por diversos locais famosos e outros nem tanto. Temos Valfenda (Rivendell), a Floresta das Trevas, Fornost e outros. As locações são baseadas em parte no que acontece em alguns dos filmes e livros. Temos florestas, picos com neve, ruínas, planícies sombrias, locações dentro de uma montanha. Os locais são bem variados geograficamente e com alguns tipos de inimigos nestas áreas. Apenas no final do jogo que ocorre uma certa junção, claro que tendo inimigos cada vez mais poderosos e difíceis de matar. E as cidades, onde você pode comprar armas e reparar equipamentos, podendo conversar com alguns personagens clássicos. Em Valfenda, por exemplo, na primeira visita você consegue conversar com Legolas, Gandalf, Gimli, Bilbo e Elrond, tendo as modelagens faciais bem fiéis ao dos atores que fizeram os filmes.
O jogo tem um sistema de diálogos bem similar ao de games como Mass Effect e Dragon Age: durante as conversas você pode escolher opções que ditam o rumo da conversa e da moral do personagem, mas os diálogos não são muito inspirados e o game não incentiva a tentar outras opções. Por ser um jogador mais bonzinho, acabo escolhendo sempre as opções mais educadas.
Quanto à parte técnica, o game cumpre o que promete: temos cenários razoáveis e os detalhes das roupas impressionam, principalmente as cotas de malha dos anões. Os cenários são bem inspirados na mitologia de Tolkien e as animações raramente falham. Só em algumas vezes que vi o cenário “se construir mais detalhadamente”, mas nada que atrapalhe a progressão do jogador. O que ficou um pouco estranho foram os olhos de alguns personagens durante as falas e a falta de carisma dos personagens. Já os efeitos sonoros são decentes, só que uma vez o game falhou na parte dos sons, eliminando os sons de menus. Também não é uma falha grave, mas acabou me incomodando um pouco.
No gameplay, Guerra no Norte é um RPG de ação: movimentação livre na batalha, combate corpo a corpo ou à distância com magias e flechas, não tendo problemas quanto à jogabilidade. A evolução tem 2 frentes: distribuição de pontos em algumas habilidades básicas (Força, Energia, Destreza, Determinação) e uma árvore de talentos destravando habilidades e melhorando as habilidades já existentes. Da parte de armamento, também temos o básico já visto nos RPGs normais: armas, escudos, roupas, elmos, que você pode adquirir comprando nas cidades, em alguns locais nas dungeons ou mesmo conseguindo durante a aventura. O armamento tem durabilidade (podem se deteriorar/quebrar) e o sistema de troca de armas é bem simples. Os menus também são simples, tendo poucas páginas e mostrando quais as armas são melhores do que outras. Algumas armas/roupas também tem slots onde você pode adicionar pedras élficas, dando alguns poderes especiais. O ruim é que ao encravar as pedras você não consegue tirar elas das armas e por você conseguir armas melhores você fica na dúvida se usa o item ou se guarda no menu.
Aliás, você vai acabar coletando muitos itens nas fases: itens de cura, tesouros diversos, ervas para manufaturar. Você pode combinar alguns itens que resultam em poções diversas, dando vantagens temporárias ao beber. Quanto às armas você coleta diversas por aí, recebendo armas que podem ser usadas apenas pelos seus companheiros de jornada. Algumas eu acabei dando para outros jogadores, outras para os personagens controlados pela inteligência artificial. São tantos itens que recolhi que foi fácil ver o inventário cheio. Então eu combinava as ervas e me livrava de algumas tralhas de baixo custo, vendendo depois nas lojas. Pelo menos dava pra vender todos os itens não essenciais de uma vez, algo raro de se ver num RPG normal.
Ainda na parte de gameplay, o game provê um co-op com 2 jogadores localmente (não testado) e 3 pessoas pela rede online (bem testado), podendo dar ítens e auxiliar durante a jornada. O co-op acaba sendo bem interessante em alguns momentos, mas ocorreu uma bizarrice comigo esses dias. Em Fornost o local é dividido em locais onde fecham os caminhos anteriores. Então numa partida eu vi um jogador entrar e eu estava perto do final. O outro jogador estava no começo, impossibilitado de chegar até mim facilmente e atrapalhando inclusive a jornada dele, pois durante o co-op você encarna um dos 3 personagens. Não é igual um Dark Souls, onde você faz o co-op com o seu personagem e tendo filtros de níveis e de localizações.
Outra falha é no sistema de save automático. Mesmo você indo para outra locação, não há garantias de que o jogo salvou. Em 3 ocasiões tive de passar a tarefa toda novamente, porquê o game não salvou direito. Fica parecendo uma loteria: quando eu queria desligar, não sabia se eu deveria mesmo sair do jogo sem sair no prejuízo e por isso o game se tornou um dos poucos onde eu me acostumei a prestar muita atenção no save, ou me forçar a jogar um certo trecho importante para chegar num checkpoint e poder, enfim, sair com mais tranquilidade. Outro acontecimento relacionado ao game “não salvar quando deveria” foi no co-op. Depois que enfrentei um chefe com outros jogadores a tela de loading estava demorando tanto que perdi a paciência e resetei o game. Quando fui novamente tive de enfrentar o chefe todo outra vez. Desta vez fui sozinho com os meus companheiros “burros” controlados pela IA e passei com tranquilidade.
Por falar em IA, novamente temos alguns problemas que prejudicam um pouco a progressão. Eu joguei a campanha principal com uma elfa e todas as vezes que via um inimigo o anão partia pro combate na cara e coragem. Não existe aqui nenhuma possibilidade estratégica (ou controlar posições no local, igual ao Mass Effect 2) ou de recuo de todos os jogadores, fora as vezes que eu entrava num corredor sem saída e um dos meus companheiros estava bloqueando a única passagem, tendo de forçar um empurrão. Pelo menos quando um tomba em batalha o outro tentava ressuscitar, tirando essa obrigação do jogador. Você também acaba tombando e os seus companheiros vão até você te ressuscitar, mas felizmente esse recurso não foi muito utilizado na aventura. Não passaram de 5 as vezes que eu perdi a luta “de verdade” e pelo game não dar opção de escolher níveis de dificuldade, então o game acaba sendo relativamente fácil de progredir. Não é igual um Dark Souls, que é bem mais desafiador e difícil.
Senhor dos Anéis: Guerra no Norte é um game razoável para quem quer diversão sem compromisso num final de semana e quer se aventurar no universo de Tolkien. Apesar dos problemas, não é difícil e tem um enredo razoável. O game acaba sendo um pouco linear, mas pelo menos você pode revisitar as dungeons e cidades quando você consegue viajar. A curva de aprendizado é rápida e para quem gosta de co-op é um prato cheio. Pena que no co-op eu conseguia apenas ser o anfitrião da partida, vendo os jogadores entrarem na minha aventura. Nunca encontrava partidas em andamento pelo menu inicial, talvez pelo fato de estar com um modem ruim ou por ter poucos jogadores. Se você é fanático pelo universo do Tolkien vai gostar bastante do game. Para quem não curte muito é recomendável alugar ou pegar emprestado. Ou mesmo comprar o game numa promoção ou pegar usado.
Atualmente como desenvolvedor de software backend, mas já foi jornalista e editor de conteúdos por mais de 10 anos, trabalhando também em portais importantes como o START UOL, Card na Manga e A Pá Ladina, além de outros sites de esports e MMOs. Hoje cobre com especialidade jogos como Fortnite, World of Warcraft, souls-likes, animes, games, cultura pop e é fã de cosplays!