Depois de nove meses jogando quase que diariamente Spelunky, semana passada eu finalmente cheguei ao final do Hell e matei o chefe secreto do jogo, o King Yama, e completei 100% do diário. Foram mais de 150 horas de euforia por cada nova descoberta e frustração por cada morte causada por um erro idiota meu, e eu devo dizer, foram 150 horas muito bem gastas.
Spelunky é um rogue-like, o que basicamente significa que o jogo é cheio de elementos gerados aleatoriamente em cada partida e que a cada morte você recomeça tudo do zero.
É o tipo de jogo em que o jogador, e não o personagem, vai se tornando melhor conforme você adquire experiência. Descobrir detalhes como a possibilidade de andar sobre espinhos sem morrer ou a utilidade do sacrifício nos altares é algo que muda pouco a pouco sua maneira de jogar, o tornando mais eficiente e facilitando chegar mais longe.
A estrutura do Spelunky é relativamente simples. São quatro mundos e cada mundo é dividido em quatro fases. Estas fases dentro de um mundo dividem características em comum, por exemplo, nas minas onde o jogo começa existem armadilhas que disparam flechas, aranhas e morcegos como inimigos e por aí vai. O objetivo também é bem simples: descer pela fase até encontrar sua saída e coletar o máximo de dinheiro possível no caminho.
As fases são geradas aleatoriamente, ou seja, a cada nova partida o caminho a seguir, os inimigos e obstáculos, e a localização dos itens vão estar em lugares diferentes. Isto torna cada partida única e ajuda, em muito, a aumentar o replay. Por mais que alguns padrões dos blocos que compõem as salas se repitam, o resultado final ainda é aleatório o suficiente pra você ter a impressão de que sempre está vendo um mundo novo, o que já é um grande incentivo à exploração.
Mas como diria o Shrek, Spelunky é como uma cebola – é cheio de camadas! Em um primeiro momento, o objetivo parece ser realmente só coletar o máximo de dinheiro e chegar o mais longe possível. E foi assim que eu joguei por um bom tempo, morrendo muitas e muitas vezes já nas fases iniciais. Mas em pouco tempo, ao terminar um mundo você encontra um outro explorador que lhe oferece a possibilidade de construir um atalho para os mundos mais avançados mediante um pequeno pagamento (cordas, bombas ou outro item que ele solicitar). E, tão logo descobri esta possibilidade, este se tornou meu objetivo até conseguir abrir todos os atalhos.
Ao final de seus quatro mundos, Spelunky apresenta o Olmec, seu chefe final. Não preciso dizer que cheguei várias e várias vezes nele (em partidas que em geral duram entre 30 e 45 minutos) para enfim morrer na praia né? Mas com um pouquinho de persistência e aprendendo seus padrões de movimento e afins, finalmente derrotei o chefe e terminei o jogo. Ou não…
Como eu disse, Spelunky é cheio de camadas. E o Olmec é só mais uma delas. O próximo e derradeiro desafio era a jornada ao Hell. E, amigos, que jornada! O Hell é um quinto mundo secreto que só está disponível se você fizer uma sequência de ações durante todo o jogo e matar o Olmec em um ponto bem específico da fase. Assim você abre as portas para o Inferno e pode explorar mais três fases e tentar enfrentar o verdadeiro chefe do jogo.
Mas que ações são essas? Em uma das fases do primeiro mundo, temos que encontrar uma chave e levá-la a um baú trancado para obter o Udjat Eye, item que permite ver itens e pedras preciosas dentro das paredes. O Udjat Eye permite também identificar a entrada para o Black Market no mundo 2, onde podemos adquirir o Ankh, que ressuscita o jogador uma vez naquela partida. Em uma das fases do terceiro mundo há uma estátua de uma cabeça gigante, a Moai Head. Nessa fase, o jogador deve se matar e o Ankh irá revivê-lo dentro da estátua onde o Hedjet será adquirido.
Mais à frente, no mundo 4 é preciso matar o Anubis e roubar o seu cetro, que será usado na fase seguinte para abrir uma porta dourada e entrar na City of Gold. Nesta fase, todas as paredes são de ouro e em seu centro está o Book of the Dead, último item dessa jornada maluca. Feito tudo isto, basta matar o Olmec (facinho à esta altura, não?) identificando o local em que há uma porta secreta na parte de baixo da fase. Usando sua cabeça como plataforma podemos finalmente entrar no Hell.
Acho que não preciso repetir, mas aí vai de qualquer jeito, toda essa brincadeira deve ser feita do zero a cada nova partida. Parece maluco e talvez realmente seja, mas é um objetivo e tanto que mantem o interesse no jogo por um longo tempo. Nas minhas tentativas, em 90% das vezes eu ficava pelo meio do caminho, mas mesmo depois de chegar no Hell, que por sinal faz jus ao nome, entrar meu caminho até o final da terceira fase foi algo que eu não consegui fazer por muito tempo. Surpreendentemente, tão logo eu consegui, matei o King Yama de primeira!
E por mais que isto já seja muito, ainda não pára por aí. Quando a versão de PC foi lançada ano passado, Spelunky ganhou o modo do Daily Challenge, onde a mesma semente que gera o jogo aleatório é usada para todos os jogadores por 24 horas. Você tem apenas uma chance por dia nesse modo e ao terminar sua pontuação é jogada para um ranking online onde você pode comparar com amigos e desconhecidos na internet. E como todos jogaram exatamente o mesmo jogo, com a mesma disposição das fases, os mesmos inimigos, itens e etc, fica bem legal de ver quem se saiu melhor. O Daily Challenge acaba sendo um grande motivo para retornar ao jogo todos os dias e jogar por uma meia horinha. Uma ideia simples mas que prolongou incrivelmente a vida do jogo.
Depois de tanto tempo de jogo e de cumprir alguns dos seus objetivos mais difíceis (a jornada a Hell também me permitiu completar 100% do diário, ou seja, eu vi todas as localidades, itens e inimigos), pode parecer que não há mais nada pra fazer, mas lembrem-se das camadas! Atualmente, os desafios mais palpáveis que restam são terminar o jogo ser coletar nenhum tesouro e terminá-lo em menos de oito minutos (o que dá cerca de 30 segundos por fase, incluindo o matar o Olmec). Ambos me parecem impossíveis no momento. Mas, lá atrás, também me parecia impossível chegar na segunda fase do primeiro mundo, chegar no segundo mundo, matar o Olmec e por aí vai.