Nesta semana a comunidade de World of Warcraft foi surpreendida com 2 anúncios de novas desistências de guildas top-server no World of Warcraft: Legion. As guildas Midwinter (uma das mais conhecidas da América do Norte e uma das mais hardcores da Aliança) e a SNF vão deixar de raidar, enquanto que a guilda francesa From Scratch (atualmente em quarto lugar no mundo, tendo derrotado o Gul’dan no mítico recentemente) vai ser mais casual, sugerindo que eles também vão abandonar a disputa de World First para a Tumba de Sargeras, próxima raide que será lançada nos próximos meses. Claro que nas corridas para ser o top server outras guildas vão surgir e jogadores com tempo disponível e habilidades vão migrar de guildas, mas esse novo abandono mostra o quão grind se tornou o MMO.
Ser raider hardcore de mítico não precisa apenas de habilidades de rotação e conhecimento profundo da classe. Tem de ter tempo livre para maximizar o personagem ao máximo, e por mais que a expansão atual tenha facilitado na obtenção de equipamentos, o sistema de lendários e o Poder de Artefato das armas acabam exigindo muito tempo do jogador. Para o primeiro, tem os lendários bons e os ruins, e quando cai um lendário ruim para o jogador ele acaba frustrado, por mais que seja uma melhoria de stats, já que “não é aquele lendário que aumentará o meu DPS”. Para o Poder de Artefato o buraco é mais embaixo, por conta do grind excessivo em masmorras míticas+ para maximizar a arma e chegar até o nível 54. Após o nível 35 o jogador ganha mais 20 níveis e aumenta a porcentagem de dano/cura/armadura, e todo acréscimo faz diferença numa situação crítica e numa raide mítica, ainda mais com wipes de 1%, 0.3% e por aí vai.
O que complica hoje é que o Poder de Artefato é individual de cada arma, e para quem joga com diversas specs se ferra por conta de ter de upar quase todas as armas ao mesmo tempo. Para os DPS a situação também não é tão confortável, pois com tantas mudanças que a Blizzard faz pra balancear as classes, o jogador acaba mudando de especialização durante a expansão, ferrando com a sua progressão de lendários e perdendo mais tempo grindando poder de artefato e farmando novas chances de cair novos lendários.
Por exemplo vou citar a situação dos caçadores (por ser o meu personagem principal): durante boa parte da expansão os jogadores reclamaram extensivamente da classe nos fóruns e nas redes sociais, primeiro por estar entre as piores de dano no jogo (para efeito de comparação classes como Sacerdotes conseguiam praticamente o dobro de dano anteriormente) e no começo a classe Precisão era a mais ideal para raides. Quem não gosta de jogar com a classe ou não é tão habilidoso (ou se acostumou/curte Domínio das Feras ou Sobrevivência) ficava para trás, tendo mais chances de ser kickado de pugs e/ou ir pro banco de reservas nas raides míticas. Assim os jogadores míticos focavam na classe Precisão, conseguiam os lendários e tiravam um pouco a diferença.
Então chegou o patch 7.1.5 e a Blizzard mexeu bastante na classe, bufando elas, mas o buff foi mais focado em Domínio das Feras, e com isso a especialização se tornava viável em algumas situações e nas masmorras míticas+, por conta da mobilidade e do dano em área/cleave.
Sim o hunter BM desse vídeo consegue um DPS brutal!
Com tantas mudanças, o jogador se sente prejudicado. Se ele só tivesse o tier set do Baluarte da Noite, ok, já que as habilidades extras compensariam bastante a classe, mas com os lendários e a arma, esta situação se complica. O jogador passa boa parte da expansão sofrendo pra conseguir alguns lendários, e quando vem patch a Blizzard melhora outra especialização, a outra spec se torna atraente e o jogador tem de upar a outra arma (que ele pode ter deixado de lado) e tem de pegar outros lendários, rezando pra vir aquele lendário top.
E para farmar lendários e poder de artefato: masmorras míticas+, fazendo dezenas, centenas de míticas+, por conta do sistema de “bad luck protection”, que aumenta aos poucos as chances de vir lendário a cada atividade que possa vir lendário, desde world quests, farm de raides e masmorras míticas+. E sem contar a chance de vir equipamentos com ilevel maior, exigindo farms e split runs nas raides normal e heróica. Para o jogador casual ou que ficou apenas em uma spec (sem se preocupar tanto em ser hardcore), boa parte deles não faz tanto os farms, mas pros raiders de raides heróicas e míticas, é mais tempo que ele tem de ter disponível. E aí o jogo deixa de ser divertido (apesar de que a diversão pode estar em conseguir se superar num desafio hardcore, dependendo do estilo do jogador).
No Patch 7.2 a Blizzard pretende piorar a situação, com mais 20 níveis extras de dano/cura/armadura, além de diversas modificações. Uma delas é a nova tabela de Poder de Artefato necessário para cara nível extra, e a quantidade é tão abissal que aparentemente eles querem desencorajar os jogadores a continuarem farmando loucamente. Claro que teremos mais níveis de conhecimento de artefato, mas ainda assim a quantidade é surreal:
Rank | 7.1.5 | 7.2 |
37 | 2,010,000 | 15,000,000 |
38 | 2,110,000 | 16,500,000 |
39 | 2,215,000 | 18,000,000 |
40 | 2,325,000 | 20,000,000 |
41 | 2,440,000 | 22,000,000 |
42 | 2,560,000 | 24,000,000 |
43 | 2,690,000 | 26,500,000 |
44 | 2,825,000 | 29,000,000 |
45 | 2,965,000 | 32,000,000 |
46 | 3,115,000 | 35,000,000 |
47 | 3,270,000 | 38,500,000 |
48 | 3,435,000 | 42,500,000 |
49 | 3,605,000 | 47,000,000 |
50 | 3,785,000 | 51,500,000 |
Eles também irão mexer na quantidade poder de artefato das masmorras míticas+, dependendo da duração. Masmorras como a Gorja de Almas, por ser bem curta (e por isso a preferida de muitos jogadores, onde dá pra fechar em 10 a 15 minutos, dependendo do nível) e Covil de Neltharion são bem focadas, enquanto que Arcâneo e Salões da Bravura são tensas por serem mais extensas. A Gorja terá menos poder de artefato no 7.2 e Salões terá mais, o que deve acabar com os grupos de farm da Gorja de Almas. No baú semanal das míticas+ também terá poder de artefato, que irá “facilitar” pro jogador. Mais e mais grind, e com isso os jogadores vão ter de continuar farmando por semanas no próximo patch.
Com um futuro complicado, as guildas começam a desistir. Primeiro por elas estarem gastando tempo demais nos farms (exigindo jogadores com muito tempo livre), ou mesmo ao sofrerem derrotas para outras guildas. A guilda finlandesa Paragon praticamente previu um futuro nebuloso e foi a primeira a desistir, antes mesmo da expansão sair, e nesse meio tempo o cenário das corridas de raide foi mudando bastante. Com internets velozes alguns jogadores das guildas mais hardcores do mundo conseguem virar streamers/youtubers e transformaram o tempo de jogo em profissão, mas nem todos são tão bem sucedidos. Outros jogadores que queiram continuar sendo hardcores migram de guildas (por exemplo membros da Midwinter e da SNF foram para a Solace) e aos poucos as guildas estão quebrando.
Estamos em uma época onde o grind deixa de ser tolerado para os jogadores. As pessoas tem compromissos pessoais, muitos jogadores hoje tem família, filhos, faculdade, estudos e o tempo que ele fica nos jogos diminui. Claro que existem as exceções e os jogadores com mais tempo livre, mas o World of Warcraft continua enraizado no grind para segurar o jogador e ele continuar pagando a mensalidade. Só que enquanto que a Blizzard conseguiu melhorar o jogo em diversos aspectos, ela piorou em outros. Hoje está mais “fácil” fechar conteúdo, mas exige mais tempo pro jogador maximizar o personagem. Mas chegará uma hora que os jogadores acabam cansando e vão para outros jogos.