Há algum tempo venho aprendendo a escrever com consciência sobre jogos eletrônicos e nos últimos tempos algo que tem me incomodado é a forma como vídeo games entraram na ciranda da modernidade, de criar promessas de um produto revolucionário, o qual “você precisa comprar!”, do contrário estará perdendo uma experiência incrível. Sejamos francos, sempre é a mesma coisa e ao fim do jogo, já estamos sedentos por alimentar nossa alma com novos desejos de consumo dando algum sentido à vida. É assim, meio que em todas as áreas nos dias de hoje e, infelizmente, com vídeo games não está sendo diferente.
Nesse sentido, temos Destiny, jogo produzido pela Bungie, criadora de HALO e distribuído pela Activision. A promessa seria de um game baseado em combates futurísticos, cujo foco principal seria proporcionar profundas experiências a partir de um massivo sistema de multiplayer online, em que seria possível realizar missões com amigos, participar de eventos, Raids, disputar confrontos PvP, colecionar uma infinidade de armamentos, itens e roupas e explorar um mundo vasto, exótico e belo. É inquestionável o potencial apresentado, mas como tantas coisas nos dias de hoje, Destiny é atraente em seu exterior, mas acaba sendo superficial em seu interior e o motivo disso é o que irei expor a seguir.
A HISTÓRIA
A trama que move o jogo diz respeito ao “Viajante”, essa figura que veio de algum lugar do espaço em direção à “sabe-se lá onde”, acabou passando pela Terra e dando aos humanos um meio de viver uma nova vida. Os avanços tecnológicos seguidos da chegada a outros planetas somados ainda ao crescimento da expectativa de vida… o mundo estava vivendo uma nova “Era dourada”. Porém, onde o “Viajante” ia, ele era perseguido pela raça dos “Decaídos”, uma raça alienígena que deseja sua destruição (Motivo? Porque eles são maus, oras). Assim, após guerras e mais guerras o “Viajante” some e deixa para trás apenas os “Fantasmas” e o “Porta-voz”. O Porta-voz é um arauto do “Viajante”, uma espécie de representante do mesmo enquanto ele não retorna e os “Fantasmas” são seres que escolhem os Guardiões, os quais são os heróis do game, responsáveis por combater as forças alienígenas do mal e restabelecer a paz no universo.
É um começo interessante, mas simplesmente nada dá certo. A trama não desperta a mínima atenção em momento algum, nem mesmo em seu clímax (que eu nem tinha percebido que era o clímax). Tudo é muito superficial e se torna uma mera desculpa para sair de planeta em planeta, de cenário em cenário, enfrentando hordas e mais hordas de inimigos que vão aparecendo. Isso leva a repetição, pois basicamente em cada cenário, em cada missão, fazemos a mesma coisa: enfrentamos hordas de inimigos enquanto protegemos algo e/ou enquanto o “Fantasma” invade algum tipo de programação de computador do inimigo. As raras exceções são as missões de “Assalto” que são missões de alto nível de dificuldade, as quais envolve o combate com um chefe final, geralmente enorme e bem mais poderoso que os inimigos comuns. Isso é legal, mas a fórmula acaba ficando repetitiva e depois só piora quando a história acaba e o único incentivo são os itens raros a serem colhidos.
O jogo não incentiva o envolvimento emocional do jogador que acaba simplesmente não se importando com nada, nem mesmo com o próprio personagem criado, surgem uns conflitos diplomáticos aqui e ali, novos inimigos que surgem em cada novo planeta liberado para exploração e quando você se dá conta, a campanha simplesmente acabou deixando um massacre de pontas soltas, ações sem nexo e perguntas sem respostas. De novo, o jogo não é apenas superficial, mas incentiva a superficialidade, pois o maior objetivo do jogador acaba sendo a coleção de itens, armas e roupas para comporem a imagem externa de um personagem raso.
JOGABILIDADE
Apesar da trama, Destiny é um bom FPS com elementos em terceira pessoa. Há três tipos de armas disponíveis sendo a principal (geralmente mais rápida e menos potente), uma secundária (comportando, fuzis de pulsão, rifles snipers, entre outros, sendo armas mais potentes) e as armas especiais (lança-granadas e rifles estilo “Rambo”, cuja munição é menor, mas com o maior poder de dano).
É satisfatório o trabalho em criar um sistema de combate misto em que é fácil e intuitivo combinar as armas com seus “poderes especiais” criando um estilo de combate próprio. Com respeito a esses poderes, joguei com um Arcano que utiliza a energia do Vácuo (e depois de um certo nível é possível utilizar a energia solar). Conforme se evolui a habilidade são liberados diversos upgrades, os quais podem ser escolhidos conforme o estilo de jogo do jogador. Por exemplo, é possível escolher um upgrade de velocidade que torna o personagem mais veloz com o ônus de torná-lo mais vulnerável à danos ou escolher um outro upgrade que melhora a defesa, mas que acaba deixando o personagem mais lento em decorrer disso.
No mais, há um bom balanceamento entre as armas, com possibilidades de upgrades melhorando o sistema de mira, de estabilidade e alcance. É um bom shooter, que consegue agradar até mesmo quem não curte jogos de tiro futuristas (assim como eu).
Interessante também é ressaltar o uso dos pardais. São veículos ao melhor estilo “Star Wars” que utilizam tecnologia para planar em relação ao solo. Ainda acho que é de longe a melhor coisa do jogo, tanto que, por hora estou empenhado no comércio de corridas clandestinas.
COLECIONÁVEIS
É claro que um dos elementos mais comuns em RPG’s é a procura por itens para compor o personagem. Nesse sentido, Destiny apresenta logo no início um sistema de personalização do personagem (que não é tão extenso, mas que é satisfatório) em que o jogador pode escolher a classe, a raça e opções variadas como cor de pele, cabelo, pinturas faciais e outras mais.
Faz parte da premissa do game incentivas a busca por itens. Personagens com itens raros acabam ganhando respeito na comunidade e em Destiny isso acaba sendo maximizado, pois estamos falando de um game com uma comunidade online em que é possível ir até o Quartel General e ficar desfilando com as roupas lendárias que conseguiu adquirir. Não há problema nisso, faz parte do sistema de recompensa ao jogador pelo seu empenho.
Entretanto, após o fim do game (que ocorre por volta do lvl. 16), não há incentivos reais para que o jogador revisite todos os lugares aonde ele já foi, realize novamente os assaltos que ele já realizou e fique preso nesse processo de refazer missões somente esperando a sorte de um inimigo dropar um item raro. Claro, há quem goste e não sinta o tédio bater a porta, até mesmo porque é possível resolver explorar os planetas disponíveis e procurar áreas secretas, mas pessoalmente, não me senti recompensado por fazer isso.
MULTIPLAYER
É importante ressaltar que a mecânica de integração dos jogadores pelo multiplayer é interessante. É possível estar explorando o mapa e ajudar algum player que esteja em dificuldades e, se desejar, já o convidar para fazer parte do seu grupo. O trabalho em equipe é de vital importância, inclusive, para o sucesso em Raids criadas pela equipe da Bungie com alto grau de dificuldade, em que é necessário, além de um personagem poderoso e habilidades individuais, um bom trabalho em conjunto com outros jogadores para, assim, conseguir completar o desafio.
Após finalizar a “história”, me aventurei nos dois principais modos do multiplayer. Primeiro temos o “Crisol” que á arena de combates, com basicamente cinco modos, desde o clássico Capture the Flag, até mata-mata com ou sem veículos. É um lugar para disputar partidas PvP, podendo, claro receber itens raros do Crisol (como armas, por exemplo) de recompensa. O segundo modo é o “Assalto” no qual temos 4 níveis de dificuldade em que somos convidados a revisitar (inúmeras vezes) os mapas de assalto que encontramos durante o modo história e derrotar novamente todos os inimigos que já havíamos derrotado antes (mas claro, em uma dificuldade maior) acumulando pontos da Vanguarda que poderão ser trocados mais adiante por itens, armas e vestimentas lendárias (da mesma forma que os pontos do Crisol).
Porém em termos de diversão, a comunicação com outros jogadores através de comandos dispostos no direcional digital foi um elemento bem vindo. Apontar, dançar, sentar… são funções interessantes e que quebram a atmosfera séria do game. Imagine que após enfrentar um monstro gosmento de 5 metros de altura com mais dois amigos, você parem no centro do mapa e comecem a dançar. Sensacional!
Falando em comunicação com outros jogadores, é fácil e rápido convidar outros jogadores para compor um time com você, chegando próximo e aperto R3, abre-se um menu e nele você pode convidar o outro jogador, analisar o perfil do personagem e da PSN e até atribuir uma “nota”, escolhendo uma das opções apresentadas que dizem se ele é um bom jogador, se ele sai durante as partidas, se ele não sabe jogar em equipe e assim por diante.
VEREDICTO
Diante do exposto, Destiny chegou num bom momento do calendário de games e acaba suprindo a carência dos jogadores por grandes jogos AAA. É um jogo graficamente bonito e o primeiro impacto de observar a luminosidade do Sol ou mesmo a grandiosidade do mundo – infelizmente não explorável – que fica no horizonte de Torre de Controle é imenso. Há um bom número de colecionáveis, um bom multiplayer e se apresenta como um FPS satisfatório, mas que no entanto, acaba pecando com uma trama extremamente rasa, inconsistente e sem vida e com poucos elementos que incentivem a permanência nesse mundo após o fim da história.
Se você possui dinheiro sobrando, gosta de investir horas e mais horas construindo um personagem com itens raros e de uma experiência online diferente do usual, Destiny pode ser um jogo para você. Entretanto, há outros jogos que prometem uma experiência mais profunda e imersiva nesse período de fim de ano, como Shadow of Mordor, por exemplo (recomendo dar uma olhada no nosso ULTRA calendário com os lançamentos desse período bem AQUI).
Eu to jogando Destiny num ritmo bem lento e intercalando com outros jogos (Fifa15 e Watchdogs no PS4 e League of Legends e HearthStone no PC) e não tinha percebido essa repetição, mas agora que vc mencionou, é verdade… Já teve umas 2 ou 3 missões em que eu tive que ficar protegendo a cortana… Digo, o fantasma enquanto ele invadia um computador dos Decaídos… Mas como vc disse, é um ótimo FPS, apesar dele não cumprir tudo o que prometeu.
Primeiramente, gostaria de dizer que também faço parte da comunidade jurídica, sou advogado, e simplesmente sou vidrado em jogos desde épocas antigas, e ao ler seu texto reconheci traços, digamos, do “juridiquês”.
Ainda estou no início do Destiny, mas a sensação é essa mesmo, falta algo, o gráfico e algumas outras coisas me remetem ao saudoso Star Wars Galaxies, cada vez que jogo sinto que falta uma imersão, mas a BUNGIE tem uma pedra bruta nas mãos, falta lapidar.
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