Hardcore. 5 milhões de gold. Compra de ítens diversos dos mercadores. Conversar com a galera. Faltam apenas 4 troféus pra conseguir a tão suada platina em Diablo III, uma platina não tão difícil, mas com um nível de demora excruciante. Finalizar o game nas dificuldades mais altas se torna um exercício mais rápido após o nível 60, e se o jogador começa a ganhar ítens maneiros na dificuldade Mestre I e consegue resistir mais a progressão nesse modo, o jogo começa a ficar mais fácil, enquanto que o “fator de loot” impera e consegue ser altamente viciante.
Mas também chega uma hora onde a diversão do jogo pode acabar definitivamente de uma hora pra outra. E essa hora apareceu pra mim, onde eu consegui um amigo na PSN que conseguiu me passar alguns ítens overpower.
Tudo começou quando eu, um pouco frustrado por não conseguir itens maneiros, decidi ver as dificuldades mais altas no modo Inferno. A dificuldade Mestre II até que não estava tão mais difícil, mas o jogo ainda inspirava cuidados quanto à sobrevivência. Pela dificuldade não estar tão elevada (apenas apertando na hora que aparecia os inimigos azuis) então pensei em reiniciar uma progressão na dificuldade, enquanto eu tentava acumular as 5 milhões de golds necessárias para pegar o troféu. Só que eu queria pular caminho, e com isso, aliado à insistência do outro jogador pra eu entrar na partida, eu fui ver a dificuldade Mestre V.
Se Diablo III era hardcore na dificuldade Mestre I no começo, em Mestre V o jogo se tornava quase impossível!
Inimigos comuns com mais de 1 milhão de pontos de vida. Mortes constantes. O básico do básico que acontecia antes. O ideal nesse tipo de situação é galgar cada dificuldade e ir adquirindo novos equipamentos que conseguissem fazer você ficar mais forte. Uma progressão mais cadenciada. Mais “Destiny”, por assim dizer. Claro que o loot do Diablo III foi melhorando do PC para as versões para consoles, mas após ter completado todas as dificuldades e ter chegado no level cap do jogo (no caso o level 60, por ser a versão normal para PS3) o loot se tornava um pouco mais frustrante. Em dificuldades mais altas você tem a sensação de que poderia cair algo maneiro e poder equipar, mas após alguma insistência nessa dificuldade eu me vi frustrado e optei por desistir. Nessa hora eu vi outro jogador entrar e vi que ele estava conseguindo matar os inimigos rapidamente. Então tomei a coragem de inspecionar o inventário dele. Aqui começou o verdadeiro desânimo.
O inventário do jogador tinha itens bem poderosos e com altíssima taxa de DPS, passando de 10 mil. Com uma varinha que tinha arrumado num outro co-op, e a combinação com o Olhar Intenso de Tal-Rasha eu tinha conseguido uma combinação bem otimizada, mas que não servia para derrotar inimigos nessa dificuldade. E apenas acompanhar os outros jogadores nessa dificuldade sem nem relar nos inimigos também se torna uma atividade frustrante. Em alguns co-ops os jogadores fazem o que eu sempre abominei no Guild Wars 2: deixam os inimigos comuns para trás e focam apenas nos inimigos mais poderosos e com mais chances de loot. Oras, eu já vi dropar lendária de inimigo comum, e é sempre uma roleta de sorte e azar nesse tipo de coisa. As minhas progressões de Diablo III eram focadas em limpar a área inteira e completar todo o mapa. Quando eu chegava no final da masmorra/local eu via no mapa potenciais locais inexplorados e partia para o local, na espera de inimigos mais poderosos e novas chances de loot. Aqui que mora a diversão do jogo e o elemento mais maneiro da série.
Só que com a edição Ultimate Evil Edition lançada, os jogadores que não jogaram tanto a versão normal ganhvam novo gás pra voltar à versão normal do jogo antes de pegar a “versão definitiva”, que tem as atualizações e mudanças no jogo, a expansão Reaper of Souls, as Fendas Nefalém e todos os recursos que adicionam “fator replay infinito ao jogo”. Se os níveis de excelência já faziam isso, as novidades da expansão já auxiliavam para dar mais tarefas ao jogador. Então optei por fazer isso, sonhando em platinar o jogo rapidamente. Só que Diablo III nada era “rapidamente”.
Postei diversos relatos dessa busca. A ralação na dificuldade Mestre I, a chegada ao nível 60 e o início dos níveis de excelência, alguns posts de “Final de Semana”…alternei o jogo com o Destiny nos jogos principais, sempre pensando na edição “Ultimate Evil Edition”. Só que ultimamente ando questionando o tempo que fico demais em um jogo, principalmente com tantos jogos na fila pra jogar. O World of Warcraft, por exemplo, se tornou a única opção de jogo quando o meu primeiro PS3 tinha dado o YLOD e com isso eu viciei no jogo, chegando a passar de 700 horas até um pouco antes do lançamento da expansão Mists of Pandaria. Com a expansão e a falta de grana pra adquirir um PC novo (pois só comprei 1 PC melhor pouco mais de 8 meses depois) o jogo praticamente parou de funcionar aqui na configuração mínima, e por isso deixei quieto. O segundo jogo com muitas horas foi o Guild Wars 2 (já com PC melhor), que estava bem maneiro em 2013, mas com o sistema de conquistas temporárias, eu me via na obrigação de ter elas completas por aqui, e com isso eu exagerava nas horas que eu separava pra jogar. De 2 a 4 horas por dia, finais de semana inteiros no jogo e nos modos de PvP, eu consegui fechar 2 personagens em level 80 (o nível máximo do jogo), além de mais de 4000 pontos de conquista. Eu comecei a abandonar mais o MMO com a Season 2, onde eles inseriram um sistema de capítulos no “end-game”, podendo destravar os capítulos e jogando posteriormente. Com isso eu decidi “deixar pra depois” e partindo pra outros jogos. Aí fui percebendo, aos poucos, que a vida útil do jogo está chegando ao fim.
Então veio o desafio da platina em Diablo III. Fechar o jogo em 4 dificuldades foi bem demorado, por conta do meu estilo de jogatina. Não sou muito fã de speed-runs, mas tentava descobrir maneiras de otimizar o meu tempo. E o jogo não tem muito esse tipo de recurso, e com isso o jeito era fazer a progressão rapidamente e sem ficar fazendo os mesmos mapas várias vezes (algo que fiz muito no World of Warcraft com algumas masmorras para conseguir itens melhores, por exemplo). Uma progressão uniforme, e que ficou mais rápida após chegar no nível 60. Quando fiz boa parte da dificuldade Inferno e estava pra começa o ato 3, eu decidi fazer uma busca rápida de partidas pra ver se, no co-op, eu tivesse mais chance de ter ítens maneiros. Nesse ponto eu consegui um feito curioso: eu achei uma partida e como os jogadores estavam bem avançados, eu consegui derrotar o Diablo com eles, e consegui o troféu de vencer ele na dificuldade Inferno sem passar pelo Azmodan, o chefe do Ato 3. Até aí tudo bem, eu peguei e depois venci o chefe e completei todo o enredo nessa dificuldade, fazendo o ato 3 e depois terminando o início do Ato 4.
Só que após essa parte veio a adição do amigo da PSN que eu comentei anteriormente. Para ele me incentivar a jogar com ele, ele me mandou uma mensagem na PSN comentando que “eu tenho uma super-arma e quero te passar amigo”. Decidi entrar na partida dele pra ver “qualé” e eu não acreditei:
Pode-se dizer que é a arma mais overpower que eu já vi no jogo. Fui testar na dificuldade Mestre V e os inimigos deitavam bonito com 2 a 3 ataques. Por usar Arcanista, a esfera de mana esvaziava rapidamente, talvez por conta do DPS ter aumentado e de cada “gota” da chuva de raios causar um dano monstruoso. Inicialmente eu me vi bem animado, pois com essa arma poderia ir na dificuldade Mestre V e fazer uma nova progressão do zero, esperando arrumar ítens maneiros que eu pudesse transferir posteriormente para a edição Ultimate Evil Edition. Só que nessa dificuldade eu ainda tinha pouca defesa, e acabava morrendo muito no jogo. Um pouco depois de ter conseguido a espada, o mesmo jogador me arrumou mais sets modificados, e o meu personagem ficou tão overpower que nem a dificuldade Mestre V era suficiente pra me divertir. O jogo deixou de ter graça totalmente, onde eu “passeava” nos mapas e nem perdia energia com ataques dos oponentes. Estava praticamente indestrutível.
Após ter comentado sobre isso no Twitter e no Facebook, um amigo comentou que a versão PS3 tinha muito esse tipo de item. Pelo jogo ter cópia de save para outras contas, era fácil o jogador duplicar um set, pois dava pra ter 2 jogadores usando o mesmo personagem, mas com 2 personagens iguais nas partidas. Com itens é a mesma coisa, e com isso esses itens são fáceis de espalhar em fóruns e pelos jogadores na PSN. Se o jogo deixou de ter a casa de leilões no PC para incentivar os jogadores a jogarem para conseguir loot, a existência de ter itens realmente poderosos e a facilidade em repassar esses itens facilmente acaba sendo um cheat no console, que poucos pensariam em usar. Cadê a dificuldade em matar os inimigos mais poderosos, em jogar pra conseguir novos loots? Se antes eu jogava já pensando na transferência de progresso, hoje nem sei se isso valeria a pena percorrer. Andar pela fase e matar os inimigos rapidamente se torna uma atividade desinteressante, e talvez eu poderia fazer isso só pela platina, e certamente não iria mais jogar o game normal.
A alternativa é destruir os itens overpower, mas e a dó em fazer isso? Pode ser que com isso ajude na diminuição em platinar o jogo, mas até mesmo a platina é algo que eu questiono a cada dia. Por ter de arrumar 2.5 milhões de gold pra destravar esse troféu, e mais o modo Hardcore (que seria um reinicio para o jogo, e agora com a chance de perder o personagem caso eu não volte o save da nuvem ou de outra conta do PS3) eu me vejo jogando em torno de 40 a 100 horas, o que transforma numa atividade frustrante e numa enorme perda de tempo, que eu poderia usar em outros jogos ou para atividades mais rentáveis.
Todos os jogos tem uma vida útil, e um recurso que todas as produtoras colocam são dificuldades mais elevadas e sets mais poderosos. Em Destiny, por mais que o sistema de loot não seja tão maneiro e que tenha tido mutreta para conseguir mais ítens raros e lendários, o jogo oferece diferentes dificuldades em todas as fases de estória e missões diárias e heróicas. Também tem as raides e o PvP, enfrentando jogadores do mesmo nível, e, claro, a produtora insere atividades corriqueiras para dar mais incentivos pro jogador retornar ao jogo. O Destiny até que tem alguns componentes insanos de grinding para conseguir ítens que são usados em upgrades de armas, mas o jogo acaba sendo relativamente menor. Ou o jogador pode usar o jogo apenas para distrair, jogando continuamente por semanas até ele cansar ou comprar outro jogo. Será que a questão da acessibilidade enorme que os games tem hoje influenciem o nosso julgamento? Que a gente não deve ficar em apenas 1 único jogo, sendo que tem mais dezenas aqui na fila? Quantas horas muitos gastaram em Diablo II no final da década de 90 atrás de loot, em uma época onde era tudo mais difícil? Um videogame tem de ser uma atividade prazerosa, e quando isso se perde em um jogo já é a hora dele ser removido do nosso tempo livre e partir pra próxima. Com o Diablo III parece que essa hora acabou chegando pra mim, a menos que eu consiga insistir mais nessa platina, torrando mais algumas dezenas de horas num jogo que acabou deixando de ser divertido com ítens overpower. Ou destruir os ítens ou recomeçar do zero, mas quando se está tão próximo de platinar, recomeçar tudo não se torna uma opção depois que você já gastou um tempo enorme no jogo.
Atualmente como desenvolvedor de software backend, mas já foi jornalista e editor de conteúdos por mais de 10 anos, trabalhando também em portais importantes como o START UOL, Card na Manga e A Pá Ladina, além de outros sites de esports e MMOs. Hoje cobre com especialidade jogos como Fortnite, World of Warcraft, souls-likes, animes, games, cultura pop e é fã de cosplays!