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Dúvida em desenho artístico: Girar ou não a folha na hora de desenhar?

Desenho de Fusca 001
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Esta semana uma questão assombrou a minha mente num tópico de desenho artístico na UniDev. A questão de girar ou não a folha na hora de desenhar. Como eu já ando fazendo desenho a cerca de 1 ano e alguns meses, acabei pegando este hábito. Algumas vezes eu pego a folha e coloco num ângulo diferente para fazer um traçado melhor. Para colorir isso é algo praticamente automático, principalmente quando eu coloro um cabelo e sigo a direção do mesmo. Em arte final vi que é mais fácil eu traçar de baixo para cima e com isso algumas vezes quando passo canetinha eu até coloco a folha de cabeça para baixo o desenho, dependendo do traço a ser traçado.

Aí na UniDev o usuário rogerio_alan disse que é errado girar a folha. Falei que isso era normal e ele disse que não. Aí fique na dúvida e pedi ajuda pra dois colegas que conhecem bem sobre arte: o Mateus, colega meu daqui de Varginha (que abriu um blog de desenho esta semana) e o André Kishimoto, desenvolvedor de games profissional. Pedi permissão a eles pra publicar aqui o conteúdo dos e-mails e mensagens de MSN/Orkut. Segue primeiro o e-mail do Kishimoto:

Na minha opinião, os dois estão certos. É uma discussão que já vi várias vezes e eu aprendi o seguinte: em arte, não há certo e errado. E olha que isso eu aprendi com dois caras de HQ, um que já trabalhou com o Ziraldo e outro que fez vários trabalhos pra Marvel (ou DC, ou ambos, não me lembro bem).

Inclusive rolou essa discussão entre um aluno e o professor (que trabalhou com o Ziraldo) num curso rápido que fiz de quadrinhos: o aluno enchia o saco falando que não podia girar a folha, porque foi assim que ele aprendeu na faculdade com o professor tradicional de artes. Daí o professor brilhantemente questionou “Por que eu não posso girar a folha se eu tenho essa possibilidade e liberdade? Por que não aproveitar isso?”.

Claro que não dá pra você girar um muro se estiver pintando o mesmo, mas eu acho que se a mídia te dá essa possibilidade, por que não? Entendo que aprender a desenhar e pintar sem girar a folha é importante, para exemplos em que a mídia é estática (uma parede, um quadro no suporte, etc).

E pra não ficar só na minha opinião, dá uma olhada nas mesas de desenho de animação:

Desenhando numa mesa digitalizadora da Cintiq 01
Desenhando numa mesa digitalizadora da Cintiq 02

Do que já pude ver pessoalmente e notar, a maioria da galera de HQ e animação gira a folha.

E a questão de não ter certo ou errado, é só você lembrar daquelas árvores que você e eu fizemos. Quem está certo, eu ou você? Os dois, já que os estilos são diferentes e ambos fizeram uma representação de uma árvore. Outro exemplo é anatomia. Você tem aquela regra básica de corpo ter tamanho de 8 cabeças, mas como dizem, regras devem ser quebradas. Daí você vai ver no mangá, a anatomia é um pouco diferente dessa padronizada, há o estilo chibi em que geralmente o corpo é do tamanho de uma cabeça e assim por diante. Mesmo na vida real essa ‘regra’ não se aplica a todo mundo.

Enfim, há n maneiras de chegar no resultado que você quer 🙂

Já o Mateus disse, via MSN e Orkut, que quando se está aprendendo a desenhar, isso não é correto de se fazer:

O correto é não virar a folha, mas sim ir driblando as limitações que encontramos ao colorir ou desenhar numa mesma posição. As escolas de desenho quando avaliam e ensinam os alunos, prendem a folha na prancheta. […]

No início o aluno ainda possui a mão muito presa, já que ele ainda não dispõe de uma boa coordenação. Se o professor liberar o aluno a desenhar virando a folha o aluno começará a usar movimentos mais favoráveis à suas limitações, o que atrasa o processo de desenvoltura da coordenação. Virar ou não virar a folha depende do caso e da consciência que você faz disso. Depois de uma boa coordenação, a pessoa utiliza isto para ganhar tempo e por às vezes contribuir com os resultados numa arte final por exemplo.

Ele também completou:

A verdade é a seguinte, Rodrigo, se você for fazer algum teste fora daqui e virar a folha eles não acham legal não, já que estaria indo contra esses princípios, mas na prática às vezes nós viramos por alguns motivos.

O que eu acho? isso vai depender do próprio estilo de trabalho do cara. Hoje mesmo conversei com o Kishimoto e ele me mostrou vários estilos diferentes de arte e de trabalho, e isso é o objetivo máximo de um desenhista: encontrar um estilo de desenhar e um estilo artístico. É claro que num desenho digital não dá pra girar a folha do desenho e voltar do jeito que estava, como numa folha comum, salvo no Painter.

Isso entra no mesmo problema do traçado do desenhista e dos esboços. Vale a pena esboçar demais um rascunho ou fazer um traço limpo direto? Isso vai variar do próprio artista, mas sei que na finalização de um desenho com certeza os traços limpos são mais valorizados. Mas como eu disse, isso vai depender do estilo da pessoa.

Esses assuntos sempre dão muito pano pra manga, sendo discutidos e discutidos direto entre os artistas, sem chegar a conclusões próprias. De qualquer jeito, numa folha comum eu vou continuar girando, caso necessite. E além do mais, os tablets Cintiq (onde o desenho é feito direto na tela) dá pra rotacionar o tablet e poder trabalhar com um outro ângulo.

4 comentários em “Dúvida em desenho artístico: Girar ou não a folha na hora de desenhar?”

  1. Isso awe é muito interessante …eu desenho faz mais de 10 anos (comecei aos 4)
    e acho que nao tem nada haver pois oq importa é o resultado final !!!e nao a maneira como vc desenha ^^
    Parabens Rodrigo Flausino pelos 2 blog os dois sao otimos ^^!!!

  2. Rá! Isso me lembra minha época de faculdade, onde um professor maluco disse que, ao pregarmos as folhas (formatos que vão desde A4 a A0) na prancheta deveríamos SEMPRE cortar a "fita crepe" COM TESOURA ao invés de simplesmente rasgarmos um pedaço de fita. QUE ABSURDO!!! Como é que um professor de faculdade fala uma asneira dessas? Assim fica parecendo uma "regra" o que na verdade não é, e que para mim foi simplesmente uma "sugestão besta". Se o objetivo é "pregar a folha na prancheta", não importa como eu irei pregá-la e sim que a minha "pregadura" (essa foi boa) seja eficiente. Pronto!
    Trocando em miúdos, oras bolas, na prancheta, como as folhas eram pregadas (assim como os muros são fixos) não dava para girá-las, mas eu simplesmente "circulava" ao redor da prancheta. Se eu não posso girá-la, não há problema nenhum em eu mesmo "girar" ao redor da prancheta… e não é que FUNCIONAVA! O que importa é o resultado final… OS FINS JUSTIFICAM OS MEIOS.
    Agora, quanto ao muro… bom, eu já fiz Grafites em muros e com certeza eu não "os girava"…. mas eu fazia alguns "contorcionismos" frente a eles para pintá-los.
    É isso….

  3. É indispensável fazer as coisas com consciência. Girar ou não girar a folha depende do caso e nível em que cada um se encontra já que tudo tem um por quê.

  4. Gostei muito do segundo comentário do Mateus. Eu não entendo nada de arte, mas trabalhando com educação já percebi o seguinte: Existem maneiras mais corretas de educar alguém. Pode ser que para ENSINAR a desenhar seja errado girar a folha. Como falou o Mateus, o professor está preocupado em vencer as limitações do aluno, em faze-lo soltar a mão e desenvolver alguns talentos. Mas isso não será um impedimento depois, quando o cara for um profissional desenvolvido.

    Na própria programação fazemos isso. Dizemos aos alunos que é terminantemente proibido usar variáveis estáticas, globais ou outras coisas que podem criar vícios prejudiciais de programação. Forçamos os alunos a manterem bancos de dados na 3NF. Mas sabemos que depois, quando o cara tiver mais discernimento, ele certamente encarará situações em que aquelas coisas "erradas" podem ser úteis. Mas aí, esperamos que ele já seja crítico e experiente o suficiente para fazer uma boa escolha sobre utiliza-las ou não.

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