Essa semana um dos assuntos mais comentados por aí (e que ainda renderão muitas discussões) é na questão da derrubada da obrigatoriedade do diploma de jornalismo para exercer a profissão. Bom, não vou ficar por aí discutindo se isso deveria ser feito ou não, mas eu senti uma leve esperança em tentar algo na área.
Algum tempo atrás eu comentei sobre isso e sobre a minha vontade de fazer esse curso e seguir nessa área. Como naquela época, eu continuo blogueiro, consigo pagar parte das minhas contas elevadas com este blog pessoal (os outros 2 não contam. Não tenho tanta visitas neles). Aí acabei ganhando uma certa experiência em cobrir notícias, em falar da área na internet, em ir em eventos (ok, fui em apenas um. Mas fui!) e outros, coisas que um jornalista faz em portais, jornais e revistas. Mas ser um jornalista significa abdicar dos dois maiores valores que construí com este blog: opinião e liberdade. Opinião já que teria de escrever de forma imparcial e sem sal e liberdade já que eu estaria a mercê de editores que iriam regular o que eu escrevo, iriam regular o que eu planejo. Iriam regular o meu modo de trabalho.
Mas o seu emprego atual não faz isso? Ele não te regula? Regula, mas não é a mesma coisa. Por mais que eu tenha obrigação de terminar uma rotina de programação pra entregar pro cliente, eu tenho liberdade de fazer do jeito que eu sei fazer. Sem frescura, sem regulador de código-fonte (mesmo usando metodologias de desenvolvimento, mas isso até um blogueiro faz, executando, por exemplo, técnicas de SEO em seu blog) e sem diploma. Sério, apesar de ser formado, isso não faz muita diferença hoje em dia e mesmo se tivesse uma regulamentação da área (o que já teve também altas discussões sobre isso algum tempo atrás) a definição de uma vaga não leva em consideração um diploma e sim a experiência (isso pra alguns cargos). Os conhecimentos do indivíduo que ele foi adquirindo. Faculdade ajuda sim, mas tem uma frase do Pablo Miwazawa (jornalista de games) que foi bem interessante:
O que vale na conversa são as experiências individuais de cada um. Estudar numa faculdade entrega uma experiência única que não se consegue de nenhuma outra maneira. Se ela não proporciona muito em técnicas ou habilidades, compensa em contatos, em vivência, em cancha (ainda que bem simulada). Já aqueles que conseguem exercer a profissão sem passarem pela faculdade, provavelmente entraram rapidamente na vida profissional e não a largaram mais. Aí, o que conta é o aprender fazendo. Quanto mais experiência da rotina de jornalista, mais técnica, eficiência e manha se consegue. E isso tudo, também não se ensina em faculdade.
É a mesma coisa em qualquer área. É claro que existe uma diferença enorme entre medicina e informática (onde a primeira tem de ter obrigatoriedade do curso. É uma área de risco), mas na informática você pode aprender sozinho e pode, no final das contas, se dar bem sem precisar passar por uma faculdade. Basta estudar. A internet está aí, você tem um mundo de conhecimento à disposição, e você pode fazer um curso preparatório/especializado pra ficar craque naquela área. Exemplo: temos uma vaga pra programador de um banco de dados qualquer numa empresa média. Ela tem dois candidatos, um formado em Ciência da Computação e outro com especialidade naquele banco de dados e que tenha experiência-previa na área. Eu contrataria o especialista, se ele provasse pra mim que sabe aquele banco, o que pode acontecer de forma comum. Nada contra quem é diplomado (eu sou bacharel em Sistemas de Informação. Sou formado!) mas o conhecimento adquirido vale muito mais do que um diploma onde aquele futuro funcionário pode ter passado nas coxas. Eu passei nas coxas em algumas matérias, como sociologia, filosofia, matérias administrativas, redes, mas como eu sou programador e escolhi esta área logo no começo do curso, com isso eu fui me educando paralelamente, estudando linguagens e habilidades de programação no serviço e em casa. E isso qualquer um pode fazer em casa desde a adolescência, estudando e baixando ferramentas pela internet. Mas eu friso: não é a mesma coisa que medicina.
E também trabalho na área há 4 anos e a possibilidade de me contratar por causa da experiência (e de saber a mesma linguagem que a linguagem que será usada no novo emprego) é muito maior. É o aprender fazendo, algo que a faculdade não me ajudou em nada nesse aspecto.
Aí chega a questão da obrigação do diploma. Não sou jornalista, não sei muito bem como é um curso, mas ao analisar a situação atual com blogs, colunas e etc, em minha concepção eu vejo uma possível melhora na área. Só que aí os jornalistas irão concorrer com que fez curso focalizado na área. Como muitos jornalistas não tem conhecimentos específicos e dificilmente irão fazer um curso de informática pra trabalhar como repórter de tecnologia (por exemplo), eles poderão perder a vaga pra quem é diplomado em informática e que pode ser bom com escrita e apuração de informações. Isso é medo. Muito jornalista que está reclamando do fim do diploma pode estar com medo. Medo de perder vaga pra quem se acha entendido de jornalismo mas que tem carga técnica muito maior do que quem tem um diploma em jornalismo. E que com certeza seria muito melhor que um jornalista diplomado.
Hoje quem irá regular é o mercado. Eu vi o Jornal Nacional e perto do final de um dos programas os apresentadores comentaram que a Globo irá continuar buscando profissionais diplomados, já que tem certos conhecimentos que acabam sendo melhor administrados na faculdade. Concordo, mas também concordo que dependendo da área de jornalismo um diploma acaba sendo irrelevante. Aí o que conta acaba sendo a experiência da área e o curso específico.
Agora, sobre eu querer fazer um curso? Bom, depois dessa eu vou é continuar do jeito que estou e continuar com os blogs. Prefiro ter opinião e ser livre, mesmo não tirando muita coisa com blogs de games. Fora isso, também tenho outras aptidões a desenvolver e quero ver se me foco nisso depois. Esperança até que eu tenho de, por exemplo, trabalhar numa revista Edge (por exemplo), mas apenas como colunista de gamedev. Nessa parte acho que me daria bem, pela minha carga de experiência prévia em gamedev (mesmo não tendo nenhum game publicado por aí na internet/por empresas, mas eu tenho capacidade para tal. Só ando com preguiça), por comandar o blog mais lido do país sobre o assunto e por já ser blogueiro de games há mais de 1 ano. Essa é a minha experiência atual e é nela que eu me baseio.
Eu tenho de terminar este texto meio desconexo com a melhor frase da semana sobre esse assunto:
Jornalistas, bem-vindos ao clube. Programadores também não precisam de diploma pra exercer a profissão.
Convivam com isso agora e chega de mimimi. Quem sabe das coisas não tem com o que se preocupar com ter ou não diploma. Eu já estou acostumado com a idéia de ter de concorrer com gente melhor do que eu no mercado de trabalho. E um dos melhores programadores que eu conheço na região não é formado, e sabe muito mais do que eu.
Atualmente como desenvolvedor de software backend, mas já foi jornalista e editor de conteúdos por mais de 10 anos, trabalhando também em portais importantes como o START UOL, Card na Manga e A Pá Ladina, além de outros sites de esports e MMOs. Hoje cobre com especialidade jogos como Fortnite, World of Warcraft, souls-likes, animes, games, cultura pop e é fã de cosplays!