As primeiras 6 horas de Final Fantasy XV desconstroem todo o hype e aura noir que estavam presentes nos anúncios iniciais do antigo Versus XIII. De um dos jogos mais hypeados de todos os tempos a um RPG de peso, mas não tendo tanto hype nos últimos meses, os 10 anos fizeram com que o novo jogo principal de uma das principais franquias da Square-Enix viesse com outra roupagem. Claro que quem jogou o antigo Episode Duscae terá mais familiaridade, mas para quem não jogou terá a sua parcela de surpresas.
A palavra de ordem deste início é liberdade. Você é jogado em um enorme mapa/planície, tendo de ir a um determinado lugar para consertar o Regalia, o seu carro e que será praticamente o seu principal meio de locomoção mais rápida. Aqui aos poucos o jogo começa a introduzir diversos elementos do game, dando ao jogador uma enorme liberdade de exploração. Os mapas são enormes e estão entre os maiores que já vi na série, cortesia do poder atual do PS4 e do Xbox One. Certamente o jogo não teria tanto impacto visual nos consoles anteriores, mostrando que a Square acertou em migrar de geração. Anteriormente o jogo era exclusivo para PS3, e agora o jogo virou multi-plataforma, com mais apelo dos jogadores, além de ter mais vendas. 5 milhões de cópias na primeira semana é um número bem expressivo e que deverá ajudar a produtora a cobrir os custos de investimento. Afinal de contas, foram 10 anos de desenvolvimento.
No jogo temos 4 protagonistas: Noctis, Gladiolus, Prompto e Ignis. Cada um deles tem um estilo próprio e habilidades e personalidades bastante distintas. O protagonista meio que é uma versão “não tão fria” de Squall (de Final Fantasy VIII) e “membro da Realeza”, por conta dele ser filho do rei Régis, tendo a missão inicial de se encontrar com Lunafreya para se casar, e assim simbolizar a trégua entre os reinos de Lucis e Niflheim. Assim os outros personagens meio que o respeitam, mas percebo que também tratar ele de forma igual. Gladiolus é uma espécie de protetor, com forte instinto de sobrevivência. Prompto é aquele jovem mais largado e sem muita preocupação com a vida, e Ignis meio que é o cérebro do grupo, com um pensamento mais “analítico”.
Com os protagonistas com personalidades distintas, a Square também adicionou “hobbies”, que influenciam diretamente alguns acontecimentos. Noctis gosta de pescar, Prompto de tira fotos e Ignis de cozinhar, e isso adiciona desde mini-games na aventura (como pescar num local perto de uma praia) às fotos que o Prompto tira durante o dia, com poses dos companheiros, cenas de batalhas, e até mesmo selfies!
Com o jogo tendo muito aberto, o sistema de combates é em tempo real, não tendo transição de telas. Ao avistar os inimigos, o jogador poderá confrontar eles se movimentando em tempo real nos mapas e desferindo golpes com os personagens. Aqui tem algumas particularidades: como sugerido pelo antigo anúncio do Versus XIII, Noctis consegue usar diversas espadas, mas apenas 1 de cada vez, podendo trocar elas em tempo real, e tendo uma diferenciação no dano causado dependendo do modelo da espada. Ele pode equipar uma espada mais pesada de 2 mãos, tendo golpes mais lentos, mas que causam mais dano, ou ele pode usar uma espada mais curta ou adagas, tendo um gameplay mais veloz.
As magias também podem ser equipadas, mas aqui recai dois pequenos problemas. Um deles é nos menus de criação de magias, que são um pouco confusos à primeira vista, onde o jogador pode setar a potencia de uma magia. Claro que o uso delas acaba sendo limitado e o jogador terá de “recarregar” em spots de energia espalhados pelo mapa. O segundo problema é que o jogador pode usar apenas 1 vez, e se ele esquecer de trocar de habilidade com o Noctis (e voltando a usar uma espada), o jogador fica um tempo sem atacar, e teve vezes que ficava sem ação. Até relembrar de trocar de equipamento foram preciosos segundos que dariam pra ter uma luta mais rápida ou melhor ranqueada. Claro que não chega a ser um problema grave, mas aparenta que as magias meio que ficam em segundo plano e apenas como uma opção de dano inicial elevado, sendo mais interessante ir na força bruta mesmo.
Agora um detalhe difícil de assimilar no começo, mas que depois fica mais fácil de executar é nos comandos de ELO, usando 2 ou mais personagens. Ao encher uma barra de técnica o jogador pode acionar movimentos especiais dos companheiros, desde um tiro bem colocado de Prompto, um golpe poderoso (e lento) de Gladiolus ou tontear um inimigo com o Ignis. O uso é limitado, mas acaba sendo interessante, criando sequências bem poderosas e que podem fazer a diferença em uma luta mais avançada.
Talvez o maior problema do sistema de combates é no “parry”, onde o Noctis pode bloquear um ataque e, dependendo da habilidade do jogador, ele pode contra-atacar. O movimento não funciona direito na maioria das vezes, e aí o personagem meio que se desvia ao invés de bloquear, o que poderia ser uma opção mais interessante para não gastar tanto a barra de “extase”. Esta barra serve meio como uma “barra de turno” ao contrário, onde o jogador pode acabar fazendo uma sequência enorme de movimentos iniciais, mas depois ele fica sem ação temporariamente, tendo de se proteger atrás de um pilar. Mas como tem áreas bem abertas nos mapas iniciais, nem sempre era possível recarregar, e aí as batalhas inicialmente simples ficavam mais complexas. Então o jogador tinha de esperar um pouco pra poder ser mais efetivo nos combates.
Com a liberdade de progressão, o jogador terá diversas opções, desde seguir na história principal, ou fazer missões paralelas/sidequests, como buscar um item em outra localidade ou participar de uma caçada, ganhando dinheiro dos NPCs. As caçadas tem uma progressão paralela e quanto mais caçadas diferentes o jogador fizer, ele poderá participar de outras mais complexas.
Apesar da liberdade de progressão e dos combates em tempo real, Final Fantasy XV também é meio burocrático quanto ao sistema de experiência. O jogador terá de acampar ou dormir em uma determinada localidade pra que a experiência seja adicionada aos personagens. Aqui podem ocorrer algumas iterações entre os personagens, e o jogador pode desde ver as fotos que Prompto tirou durante o dia (podendo salvar algumas) e comer, ganhando buffs extras. O sistema adiciona mais realismo quando à própria progressão dos personagens, tendo uma transição de dia e noite. À noite tem mais perigos, e fica a critério do jogador se ele continua explorando os mapas à noite, ou se ele volta prum local de descanso pra ganhar mais EXP.
Quanto ao enredo, tentando não comentar muitos spoilers, o jogo começa de forma um pouco abrupta por conta do Kinsglaive. Apesar de não ser obrigatório assistir ao filme, o filme praticamente explica a situação atual do mundo, e ajuda no entendimento de diversos trechos e momentos que os protagonistas passam. Por mais que tenha um trecho do jogo com alguns trechos do filme, esses trechos geram um pouco a impressão de “jogo incompleto”, isso se excluir os acontecimentos do filme naquele momento. Só que é difícil dizer se o jogador teria paciência pra assistir uma “CG gigante” antes de partir pro jogo em si, mas para quem quiser ter a experiência mais completa terá de comprar o filme, gerando um pequeno gasto extra.
Independente dos pequenos problemas, Final Fantasy XV está muito bom! Claro que ainda não explorei direito o jogo e ainda estou nas primeiras horas, mas fazia tempo que não jogava um RPG que instigasse a continuar a progressão. O jogo tem a sua parcela de linearidade com o enredo, mas as opções extras de missões paralelas dão mais a sensação de “mundo aberto” que tem em outros jogos de RPG. Para quem estava querendo um RPG com pegada clássica, mas com uma roupagem de “nova geração”, o jogo consegue cumprir bem o seu papel!
Atualmente como desenvolvedor de software backend, mas já foi jornalista e editor de conteúdos por mais de 10 anos, trabalhando também em portais importantes como o START UOL, Card na Manga e A Pá Ladina, além de outros sites de esports e MMOs. Hoje cobre com especialidade jogos como Fortnite, World of Warcraft, souls-likes, animes, games, cultura pop e é fã de cosplays!