Quando a crise financeira estourou no mundo, comecei a ver uma diminuição abissal do faturamento do Adsense mês após mês. Em uma época onde muitos blogueiros começavam a ganhar muita grana com esse mercado, e depois ver isso praticamente saindo de cena chega a assustar. Nesse meio tempo diversos jogadores que tinham mais afinidade de vídeos começavam um movimento sem volta, e que praticamente pode definir o futuro das coberturas de games nos próximos anos: o movimento dos Youtubers.
Antigamente, tal como eram muitos blogs independentes, a gente bloga por gostar disso, sem se preocupar com grana. Claro que ter um retorno desse trabalho sempre é interessante, muitos blogueiros viraram jornalistas e entraram em cursos na área, e outros entraram na área por reconhecimento e experiência (por exemplo eu sou um dos editores do DominioMMO, portal de games online ligado ao UOL Jogos). Só que a sombra do Youtube sempre esteve ali, mas nos últimos anos o movimento dos Youtubers explodiu, e já estamos vendo uma certa saturação na área, com os grandes continuando grandes, os Youtubers grandes apoiando grandes, e um mundo de Youtubers menores querendo um lugar ao sol.
Depois veio o movimento dos Streamers, onde os jogadores transmitem o gameplay ao vivo, interagindo com os espectadores, pedindo apoio e “me inscreva no meu canal”, além de oferecer sorteios de produtos. Outro movimento sem volta, já que com a Amazon comprando o Twitch, eles viram que isso é um novo filão nos games e em tráfego de acessos.
Só que assistir streamings de jogadores é um tanto quanto bizarro na minha mente e, provavelmente, na mente de muita gente. Tirando os streamings oficiais de jogos que ainda não saíram (onde as produtoras usam essa ferramenta para divulgar seus jogos, como faz a Arenanet quase toda semana com a expansão de Guild Wars 2, além de algumas sessões do Dragon Age: Inquisition que a EA fez antes do lançamento) de maneira geral não faz muito sentido acompanhar alguém e você mesmo não jogar o mesmo jogo. Tudo bem que algumas vezes a gente fez isso por aqui, mas não me veria assistindo alguém jogar o The Witcher 3 por 2 horas sendo que eu to com o jogo por aqui no Ps4. Ou o Project CARS no PC.
Vídeos de gameplay, lets play e walkthroughts enormes, claro que o editor tem de ter algum diferencial para incentivar os jogadores a pararem o que eles estão fazendo pra acompanhar um vídeo extenso. Aí que está o pulo do gato, e onde a gente, que se especializou em blogs e cobertura textual, pode ter dificuldade pra fazer. No meu caso, não tenho dicção direito, nem muita paciência para editar um vídeo de gameplay. O nosso canal tem muito mais vídeos do Guild Wars 2 quando eu gravava algum trecho maluco e eu simplesmente mandava pro Youtube por questões de arquivo, para ter o conteúdo disponível.
Aí eu fazia um post comentando sobre isso, gerando um conteúdo diferente, mas não no mesmo nível que muito Youtuber famoso, com edição boa. Para certos jogos nem seria tão recomendado: eu sou péssimo no Project CARS, e entre, sei lá, postar um vídeo dirigindo como jogador comum, e ter gente falando que “você não sabe jogar simulador”, é mais fácil comentar sobre o jogo de maneira textual de maneira geral (fora que eu nem jogo em resolução Full HD, por ter ainda um monitor de 17 polegadas). Mas tem muita gente que não está nem aí pra isso, manda o vídeo e ignora os xingamentos dos extremistas (algo que eu deveria fazer também, diga-se de passagem).
Mas voltemos ao Twitch. Esta semana o Youtube anunciou que vai lançar um portal específico de jogos, com interface personalizada e para concorrer com o Twitch quanto ao streaming. O Google perdeu a disputa para comprar o Twitch, e então decidiu investir em sua principal plataforma de vídeos, prometendo ter “25 mil páginas específicas para cada jogo, com cada uma servindo como um hub para canais, vídeos e transmissões por streaming”. Segundo o UOL Jogos, este conteúdo poderá ser feito tanto por produtoras de games quanto por youtubers.
Como no serviço do YouTube, também será possível assinar canais e criar playlists baseadas em games que quiser acompanhar. Além disso, quando um canal começar um livestream, todos os seus seguidores poderão ser notificados.
“Descubra novos favoritos com recomendações baseado em games e canais que você curte”, diz o anúncio. “E quando quiser ver algo específico, você pode procurar com tranquilidade, sabendo que digitar ‘call’ vai mostrar ‘Call of Duty’ e não ‘Call Me Maybe'”.
O YouTube também anunciou que seu serviço de streaming será significativamente melhorado e simplificado.
O Twitch respondeu ao anúncio com uma nota bem irônica no Twitter, pedindo para o Youtube adicionar o Twitch no Google+.
Certamente para a comunidade e os jogadores, esse anúncio veio como uma bomba, pois muita gente usa o Youtube como plataforma de conteúdo, e hoje muita gente ganha desde uns trocados até mesmo milhares de dólares com seus vídeos. E pode ser um novo pulo do gato.
Aí a gente volta para este espaço: e os blogs? Com o advento das redes sociais, muita gente migrou dos blogs pro Facebook, Twitter e o próprio Youtube. De um lado temos o IGN Brasil vindo com força, e do outro sites como o Kotaku Brasil fecharam as portas, talvez por conta do modelo de negócios baseados em publicidade não ter se sustentado. Sem publicidade, sem grana pra manter jornalistas, servidores e outros custos atrelados.
Portais mantidos por jornais estão apelando pro paywall, e enquanto a informação está liberada e em tempo real, a informação paga está caindo em desuso, para desespero dos grandes portais. Jornalistas são demitidos e quase sempre o caso é abafado, tendo um ou outro comentário de algum próximo no Twitter ou em sites especializados em cobertura jornalística da área jornalística. Além da gente mesmo ter virado concorrente deles com os blogs, e depois os Youtubers viraram nossos concorrentes, apesar do público de diversos canais serem bem diferentes.
Como comentei do nosso anúncio da migração pro Gamehall, a gente é uma resistência na geração de conteúdo. Hoje estamos virando exceção. Eu cheguei a remover o Adsense daqui por conta que ter ele e não ter ele era praticamente a mesma coisa, sem ter faturamento. Um dos motivos da migração é tanto para ter mais alcance em audiência, quanto para diminuição de custos, pois certamente o Select Game iria fechar por conta de custos atrelados a manter um servidor no ar. Teve um mês que gastamos mais de 250 reais de hospedagem, e tinha uma época onde eu tirava, do bolso, de 100 a 150 reais por mês com o Dreamhost (que não recomendo pra ninguém). Hoje nem todo mundo teria coragem e ânimo pra gastar isso de hospedagem. Mais fácil fechar as portas e usar a grana com jogos ocasionais, isso se o portal não ter mais tanta gente acessando.
O futuro dos blogs profissionais hoje é sombrio, e as alternativas estão diminuindo, Hoje muitos portais e jogadores estão usando o Patreon para conseguir se manter no ar, mas é um modelo mais complicado e, de certa forma, um pouco instável. Alguns sites conseguiram ganhar sobrevida, como o Blizzard Watch e o Massively OP, que surgiram após o fechamento do Massively e do WoW Insider, que eram portais ligados ao AOL e foram fechados junto com o Joystiq.
Só que aqui no Brasil nem todos conseguem isso. Alguns podcasts estão tendo um bom faturamento, e tem modelos bem-sucedidos como o Overloadr e o 99 Vidas, mas já vi Patreon de portal grande que não chega nem perto disso, o que é estranho, pois considerava como portal de grande audiência e com conteúdo regular, e que já foi parceiro de grande portal, mas que teve re-migrações posteriores, quando a parceria acabava e não era renovada.
Ano passado considerei fazer um pra gente, mas ao conversar com outros editores e jornalistas durante a BGS e depois, para um modelo desses ser bem-sucedido é necessário ter uma comunidade que abrace essa ideia de ajudar, e o nosso perfil não tem isso mais. Fora que desde novembro eu fiquei desanimado em escrever regularmente, por causa do World of Warcraft (eu praticamente tinha virado um raider hardcore, e isso consumiu muito o meu tempo livre) e por conta de estar gerando conteúdo pro DominioMMO.
Fazer um Patreon envolveria mais responsabilidade, pois você tem de entregar a qualidade que o leitor que investiu a sua grana exige. E aí vem a questão da própria liberdade, algo que eu sempre arrisco com determinados conteúdos (tipo os posts de cosplays que eu posto ocasionalmente) e pautas mais corajosas, e onde eu ando optando mais por fazer posts maiores e ocasionais, do que competir com portais grandes, que sempre vão vencer a gente em volume de notas e audiência.
Em épocas de E3, por exemplo, cheguei a tirar férias do meu trampo anterior e queria “abraçar o mundo”, mas ao tentar fazer muito conteúdo durante o evento eu descobri um limite mental e físico de cansaço, com um limite na casa dos 10 a 12 posts por dia. Que já é um número alto, diga-se de passagem, mas bem menos da quantidade de novidades que tem num evento desse porte. E manter uma qualidade nos posts, algo que nem todo mundo faz, onde sites com muitas visitas praticamente postam páginas tendo apenas um embed do Youtube e sem uma letra no post, e já vi até mesmo uma notícia ser copiada inteiramente em inglês.
Quem abre um site hoje tem muitos desafios para manter ao ar. Não apenas a hospedagem, mas a própria audiência. Hoje o Facebook bota um alcance ridículo para forçar os donos de páginas a pagar por alcance, e isso nem é garantia de que as pessoas vão ler o seu texto. Muitos leitores sequer clicam numa notícia, mas interagem com a post da página do Facebook com alguma bobagem ou comentário qualquer. O Twitter é uma alternativa e não tem essa frescura de alcance, mas se o usuário segue muita gente, ele pode nem ler o que você postou em outra hora do dia. Alguns sites repetem o mesmo tweet, mas quem já leu antes acha ruim de reler o mesmo tweet em outra hora do dia, e já vi profiles postando 3, 4 vezes por dia a mesma notícia, e já vi profiles postando uma notícia da semana anterior.
Hoje os geradores de conteúdo estão migrando pro Youtube, mas como acontece com os blogs, o canal não nascerá da noite pro dia, e é sempre um projeto a longo prazo. O gerador de conteúdo tem de investir tempo, dinheiro com equipamentos e paciência, pois uma hora a audiência será formada. Só que os modelos clássicos de blogs e portais estão entrando em extinção, e ou a gente abraça essa ideia junto, ou a gente pode acabar morrendo na praia.
Atualmente como desenvolvedor de software backend, mas já foi jornalista e editor de conteúdos por mais de 10 anos, trabalhando também em portais importantes como o START UOL, Card na Manga e A Pá Ladina, além de outros sites de esports e MMOs. Hoje cobre com especialidade jogos como Fortnite, World of Warcraft, souls-likes, animes, games, cultura pop e é fã de cosplays!