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Os jogos independentes e a nova geração de consoles

Quando Jonathan Blow subiu ao palco em fevereiro durante a apresentação do novo console da Sony, ficou clara a importância que os jogos indie ganharam nos últimos anos e o seu papel na briga dos consoles da nova geração. Não me entenda mal, ainda acho que o dinheiro, os sucessos de vendas, vão estar nos Call of Dutys, Halos e Uncharteds e esses grandes jogos ainda serão os maiores responsáveis pelas vendas de consoles, mas não há como negar que os jogos independentes representam uma peça importante das donas de plataforma pra tentar atrair todo tipo de público.
E a participação do criador de Braid não é o único indício disto. A Sony vem tomando, há um tempinho já, uma série de medidas pra tornar suas plataformas mais amigáveis aos desenvolvedores independentes. Começando lá em 2008 com a PhyreEngine que, infelizmente, nunca foi aberta para todos, até o recente Playstation Suite, que permite desenvolver para o Vita,  e celulares e tablets compatíveis. A PS Suite exigia um pagamento de $99 anuais (nos mesmos moldes do XNA para o Xbox 360) para a publicação de jogos, mas na semana passada a Sony simplesmente eliminou essa taxa, reduzindo ainda mais as barreiras para quem quer desenvolver para um dos seus consoles. Isso significa que hoje é possível desenvolver um jogo completo para o Vita a custo (virtualmente) zero, algo inimaginável uns anos atrás.
Some isto à gigantesca mudança de filosofia na publicação de jogos no Playstation 4 e podemos ver como as coisas estão mudando. Antes, a aprovação de um jogo passava por toda uma etapa de avaliação do seu conceito, e os desenvolvedores ainda tinham que responder ao feedback dado pelos times da Sony, tornando o processo lento e trabalhoso. Agora, seja pra indies ou mesmo grandes estúdios, a certificação se tornou muito mais simples. Ainda há exigências de que alguns “pilares do Playstation” sejam seguidos, algo como usar algum recurso específico do Vita, por exemplo, mas a Sony deixa de lado seu papel de “editora”, que tentava controlar muito de perto o desenvolvimento, e cria uma relação mais de parceria com os desenvolvedores, confiando no seu trabalho e, inclusive, oferecendo ajuda financeira através do Pub Fund.
psm
E, como diria um bom vendedor, não pára por aí. Em março, foi anunciado que o Unity irá suportar todas as plataformas atuais do Playstation, o que significa o PS3, PS4, Vita, Playstation Mobile e o futuro serviço de jogos na nuvem. O Unity é uma ferramenta muito popular que facilita muito o desenvolvimento, especialmente para pequenos estúdios e desenvolvedores independentes que não podem dedicar boa parte do seu tempo de desenvolvimento à construção  de ferramentas. E ele ainda trás o bônus de ser multiplataforma, permitindo que um jogo saia pra diferentes dispositivos e sistemas  (PC, Mac, Linux, iOS, Android, Wii, Wii U, Xbox 360, PS3 e navegadores, por enquanto) com mínimas alterações.
As licenças para console do Unity são, como de se esperar, mais caras e restritas, já que é preciso ter um kit de desenvolvimento, ser autorizado pela dona da plataforma e tal. Agora, com o suporte ao Playstation Suite, não seria estranho se ao menos no desenvolvimento mobile (para celulares e o Vita), o modelo de licenciamento seguisse os moldes do que já acontece com o iOS e o Android, onde qualquer um pode pagar os $400 ou $1500 do Unity (dependendo da versão) e já partir para o desenvolvimento, sem mais burocracia. E mais, com toda a postura mais aberta e convidativa da Sony em relação aos indies, eu não me espantaria se isso se estendesse também ao PS4. Desta forma, a barreira de entrada na plataforma cairia totalmente e, de certa forma, o caminho para lançar um jogo no console da Sony não seria muito diferente do que é hoje no Steam (um dos seus maiores concorrentes, especialmente no lado dos jogos independentes, é bom dizer).
Pra completar, a PSN acaba de receber uma seção exclusiva para jogos independentes em sua loja. E, ao invés de relegar este tipo de jogo ao seu cantinho separado dos grandes títulos (uma crítica muito comum à XBLIG), a nova seção é apenas mais uma vitrine, mas os jogos independentes continuarão a ser exibidos na loja “convencional”, por assim dizer.
bastion
Enquanto isso, as coisas não vão tão bem no lado do Xbox. Muitos desenvolvedores já vieram a público reclamar da relação com a Microsoft (aqui, aqui e aqui, só pra se ter uma ideia), criticando seu processo de certificação, as taxas para patches, a demora na publicação dos jogos e atualizações e toda burocracia envolvida. E isto não deixa de ser irônico, visto que alguns dos principais jogos indies dos últimos anos vieram de lá. Braid, Bastion, Mark of the Ninja, Super Meat Boy, Castle Crashers, Trials e Fez  são exemplos de jogos que tiveram sucesso de público e crítica e foram exclusivos, ao menos por um tempo, da Xbox LIVE.
E ainda tem a seção de jogos desenvolvidos em XNA (a Xbox LIVE Indie Games – XBLIG) que permite a qualquer um desenvolver para o Xbox, com a Microsoft saindo do caminho e evitando de dizer o que vai ou não ser publicado, deixando a própria avaliação da comunidade responsável por aprovar ou não os jogos. E isso tudo surgiu no longínquo ano de 2006, uma época em que os indies não estavam “na moda” como hoje e apostar nesse tipo de jogo em consoles era algo bem incerto. Infelizmente, a plataforma será descontinuada e o XNA não irá receber mais atualizações. Isso pode significar a entrada de uma ferramenta mais moderna e completa (mais uma vez, abraçar o Unity seria uma ótima opção para todos), mas até que algo seja anunciado, ficamos sem saber como a Microsoft pretende lidar com este tipo de jogo no futuro.
O novo Xbox será anunciado na semana que vem e não seria um palpite tão absurdo assim pensar que a Microsoft pode repetir os passos da Sony e levar alguma figurinha importante dos jogos indies pra mostrar seu apoio ao novo console, dizer que ele é ótimo e que desenvolver pra ele é uma maravilha. Caso isto se confirme e o novo Xbox também tenha uma maior abertura para os desenvolvedores independentes, teremos não só uma briga por exclusividade pelas donas dos consoles, mas também ferramentas mais acessíveis, maior facilidade de acesso às plataformas e novas possibilidades de financiamento e publicação. No fim, todo mundo sai ganhando.