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Análise – Uncharted 4: A Thief’s End (PlayStation 4)

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Nascido na geração anterior, de “versão masculina da Lara Croft” para uma das maiores franquias dos consoles, Uncharted se tornou um dos principais carros chefe da plataforma de jogos da Sony. Após três games de sucesso no playstation 3, Uncharted 4: A Thief’s End chega à nova geração de consoles com uma trama que fala sobre família, laços e os dilemas da vida de um bandido.

Na trama, Nathan Drake nosso protagonista, após tantas aventuras encontra-se agora no profundo poço da tediosa vida de um aposentado dos tempos de ladrão caçador de tesouros. Vivendo uma vida normal com Elena Fisher, seu par romântico, Nathan encontra-se num terrível dilema a partir de uma crise de identidade com sua nova vida e a expressão da sua subjetividade na saudade dos velhos tempos. De fato, seria possível até mesmo pensar um pouco mais longe e crer que a Naughty Dog, talvez, estivesse fazendo referência a toda uma geração de jogadores que cresceram com o antigo Playstation e falando com esses jogadores que em sua infância se divertiam com Crash Bandicoot, que em sua juventude experimentaram a primeira trilogia Uncharted e que, agora, são abraçados pela vida adulta, com  o casamento, a rotina de emprego e a nostalgia dos tempos de aventuras, imaturidade e irresponsabilidades.

Uncharted 4: A Thief’s End - Nathan e Elena

De qualquer modo, todo o marasmo acaba quando seu irmão mais velho Sam tido como morto reaparece após 15 longos anos e lhe coloca novamente atrás do grande sonho de suas vidas: encontrar o lendário tesouro pirata de Henry Avery e a cidade perdida de Libertaria. Para tanto, percorrem quase todo o mundo nessa empreitada, de forma que, a partir de então, a trama se desenrola com boas reviravoltas dignas de um bom filme hollywoodiano, seguindo aquele estilo tão único da Naughty Dog. Todos os elementos típicos dos jogos anteriores estão lá: ruínas antigas, armadilhas, quebra cabeças para resolver, organizações criminosas compostas por mercenários e até (o agora velhinho) Victor Sullivan.

A adição de Sam faz bem ao enredo que agora deixa de estar focado inteiramente em Nathan, mas que procura explorar bem a relação entre os dois irmãos, sua sincronia e os laços que vão se restaurando após tanto tempo separados. Ao longo de cenários é possível desfrutar de falas íntimas entre ambos sobre o tempo em que perderam e o que pretendem fazer após encontrarem o tesouro do velho Avery.

A progressão da trama só é tão boa em função da harmonia com a qual as demais mecânicas do jogo funcionam. A transição das cenas não-interativas para os momentos interativos é feita de modo suave e fluído aumentando a imersão por parte do jogador e proporcionando uma experiência cognitivamente agradável. Para tanto, há quatro elementos importantes: a trilha sonora, a física, os gráficos e o sistema de combate.

A trilha sonora tão característica reforça o elemento cinematográfico nos remetendo a um bom filme de aventura. O compositor Henry Jackman já é bastante conhecido pela composição da trilha de filmes como “Capitão América – Guerra Civil” (2016), “Kingsman – Serviço Secreto” (2015) e “Operação Big Hero” (2015). A física coopera na construção de um jogo graficamente impecável – sem dúvidas o mais bonito exclusivo do console da Sony -, na lama que voa enquanto dirigi-se um jipe em terreno acidentado, nas paredes e caixotes que vão se estilhaçando conforme balas cortam a tela, nos saltos vertiginosos entre paredões rochosos tendo nada menos do que grandes precipícios esperando qualquer erro, nas expressões faciais e na ótima iluminação, sem dúvidas, é um jogo graficamente impressionante e toda essa beleza é realçada pelo “photo mode” já implementado em uma série de jogos anteriores, mas que em Uncharted nos permite apreciar com mais detalhes toda a beleza do universo criado pela Naughty Dog.

Uncharted 4: A Thief’s End - Escaladas

Há que se ressaltar ainda o excelente trabalho de transição entre as cenas não interativas e os momentos interativos do game, tudo ocorre de forma bastante fluida e poucos são, de fato, os momentos em que não se possui o controle de algum personagem, o que corrobora na imersão e na criação de toda a “mágica” que faz o jogador se sentir participante da ação, exemplo disso são diálogos cortados por um caminhão com metralhadores que aparece ou lutas contra outros personagens que usam um tipo de quick time events, mas sem deixar explícito isso, deixando que o próprio jogador perceba o momento e use o botão de ataque ou de esquiva.

É, ainda, necessário ressaltar o excelente trabalho desempenhado na criação dos cenários. Belos, paisagísticos e monumentais, não por poucas vezes parei em meio a trilhas ou escaladas para observar toda a beleza e exoticidade dos mais diversos lugares por onde passava. O modo de fotografia, já inserido em diversos jogos anteriores, desempenha um papel ainda mais interessante para realçar os aspectos gráficos do game, dos quais os próprios cenários, como já mencionado.

Uncharted 4: A Thief’s End - Jipes

Não obstante os elementos já apresentados, há que se dizer que o sistema de combate e demais mecânicas de exploração tiveram bons acréscimos e boas melhorias. Para quem jogou o jogo anterior da Naughty Dog, perceberá alguns elementos que não estavam presentes em Uncharted 3, mas que foram introduzidos em The Last of Us, muito do sistema de exploração e um pouco do sistema de combate foram – com razão – aproveitados, adaptados e aplicados à Uncharted 4. Muitos cenários agora permitem o uso de mecânicas “stealth” possibilitando que se atravesse-o sem a necessidade de matar um único inimigo (ótimo para jogadores que já pararam pra pensar em quantas centenas de pessoas – ainda que capangas – Nathan já matou nos três primeiros jogos). Não obstante, a implementação do gancho com corda foi bem vinda abrindo um leque de novas possibilidades não apenas no que diz respeito à exploração, mas principalmente ao combate acrescentando um elemento um pouco mais estratégico tanto aos combates do modo história quanto aos combates do multiplayer.

Por falar no multiplayer, em Uncharted 4, como nos jogos anteriores, temos a possibilidade de sairmos matando outros jogadores em arenas para vários jogadores online. Para tanto, existem três modos de jogo: mata-mata em equipe, comando e pilhagem. O primeiro consiste no clássico deathmatch, vence a equipe que matar a maior quantidade de jogadores da equipe inimiga; o segundo consiste na captura de pontos e na eliminação de capitães do time adversário de modo a somar pontos para sua equipe, a equipe com maior número de pontos vence e, por fim, o último consiste num tipo de “capture the flag” em que um ídolo (estátua ou objeto mitológico de valor religioso) deve ser carregado de volta até sua base. Não há nada de extraordinário no multiplayer, existem boas jogatinas em equipe e rende vida extra após as dezenas de horas na campanha principal.

Uncharted 4 é, possivelmente, o maior título do ano até o momento e um dos principais nomes para um “Game of the Year” (apesar que o segundo semestre promete muita coisa boa e ainda temos E3 por aí). Com gráficos jamais antes vistos, jogabilidade cativante, uma história que, apesar de não muito profunda, é a típica sessão da tarde de aventura que agrada, é o tipo de jogo que donos de Playstation 4 não podem passar dessa vida sem jogar.