Atendendo a pedidos do leitor Ursinho Malvado, decidi tecer aqui uma questão que para muitos é bem óbvia, mas para outros nem tanto: como é a vida de um PC gamer? Agora que eu praticamente virei um, a resposta depende de alguns fatores, mas para quem tem grana pra investir, virar um jogador de PC traz bastante vantagens. A primeira, claro, vem na questão dos preços dos jogos, onde, por conta de diferenças de taxações de impostos, um jogo de computador incide menos impostos que os jogos de consoles, tendo games que saem por valores próximos a 100 reais para lançamentos, e valores bem menores no Steam, hoje a principal loja de games da atualidade e o “Hub” de praticamente todos os jogos da maioria.
O Steam, como muita gente diz, é uma mãe! Além de ser uma loja de jogos, também funciona como uma espécie de “rede social” sem ser classificada como uma. Você tem fóruns, você pode fazer as suas análises dos jogos que você comprou no serviço, você pode conversar em chats privados com os seus amigos, adicionar amigos, criar listas de compras… A maioria das atividades gera “badges”, que incrementam a interatividade, além do sistema de cartas, onde a maioria dos jogos te dão cartas extras e você pode completar todas para gerar uma insígnia, ganhando mais “experiência” para um sistema interno de níveis dentro do serviço e mostrar pros seus amigos. Da parte técnica, o Steam também ajuda na questão de configuração de DirectX, praticamente fazendo todo o serviço pesado que você acabaria fazendo em cada inicialização inicial de um jogo recém-adquirido e baixado. Claro que no meu caso, por ter sido um “PC frankenstein de loja de informática”, veio tudo mastigado: drivers de vídeo, som, DirectX instalado e tudo mais, e caso você acabasse comprando um PC cru, provavelmente teria de fazer instalações iniciais e instalações dos drivers da placa de vídeo, mas acredito que o Windows 7 e o 8 vem com isso facilitado pro jogador em alguns pontos.
Só que o Steam pode ser uma mãe, mas a concorrência não é, gerando bizarrices que deixam muita gente irritada. Claro que as empresas querem ser competitivas, e algumas vão além e fazem as próprias lojas digitais para os seus jogos, para evitar a “fatia” que elas teriam de pagar pra Valve no Steam com as vendas de jogos. Electronic Arts e Ubisoft tem as suas lojas Origin e UPlay (respectivamente) e aí entram as zueiras. Por ter usado pouco o Origin, então me limitei mais a jogar algumas vezes o Need For Speed: Rivais e betas dos Battlefields, e nesses últimos tive os problemas que muita gente tem: problemas de drives, o tal do “PunkBooster”, recomeço de downloads, erros aparentes e a “não finalização da instalação”. No Steam não tem isso, tudo funciona lindamente bem. Mas não cheguei a ir mais no cerne do “PC gaming”, pois joguei poucos jogos concretos no PC. Joguei muito mais o Guild Wars 2, que nunca tive problemas, mas já li relatos por aí de jogadores que tiveram problemas estranhos, tendo de fazer novamente o download do jogo, e baixar 33 GB nunca é moleza, salvo se você tem uma conexão potente de internet.
Da UPlay, é aquele negócio: também são poucos jogos, e não tive problemas pra eles, mas acaba sendo maçante. O Steam você praticamente deixa integrado, e ele faz tudo pra você sem pedir. O Steam baixa seus updates em background, baixa updates dos jogos em background sem você perceber (só se você perceber uma diminuição na sua velocidade de internet), e nos concorrentes você meio que tem de fazer tudo “na mão” por conta de você não ligar pra eles, por conta de você não ter deixado eles “integrados” no seu sistema operacional. Quantas vezes você abre a UPlay? Se for muitas vezes deve ter sido pra jogar os jogos recentes da Ubisoft, mas como eles tem uma oferta baixa de títulos exclusivos, o Steam que é sempre o centro das atenções. Não tenho o Watch_Dogs, eu joguei pouco o Rayman: Legends, mas quando precisava abrir, sempre é a questão maçante de você ter de esperar checar updates, baixar update da UPlay, depois ver se o jogo terá updates e etc.
Uma coleção bem mais tímida na UPlay
Alguns crucificam a Ubisoft nesse ponto, mas como desenvolvedor de sistemas, não posso reclamar pois uso um sistema parecido com um software que eu mantenho pros clientes do meu cliente. Tenho de forçar uma atualização pra pegar as novidades, o que também serve pra diminuir a pirataria no PC, que está sempre presente, mas com o Steam vendendo jogos com preços insanos, a maioria praticamente abandonou a pirataria. Pois eu tenho 250 jogos no PC, e não me sinto compelido a querer piratear jogos mais. Com tanto jogo, promoções insanas e um PS3 a tira colo, sempre poderei arrumar um jogo novo legalizado, pra jogar online, não me preocupar com travas, destravamentos, nem nada. Oras, eu comprei o Skyrim Legendary Edition por 27 reais, praticamente o preço de um jogo pirata. Joguei ele? Não, nem baixei o jogo, e olha que eu tenho a versão física no PS3. Mas tava barato, era versão completa, fui comprando…
Agora, outras questões acabam vindo em voga. No meu PC antigo com o Windows XP e uma placa de vídeo tosca, eu tinha problemas de performance no World of Warcraft. Só tive problemas no jogo recentemente por conta de querer jogar ele com um download em background de 11 GB dos patchs mais recentes, que fez eu ter de reiniciar o jogo algumas vezes. Só que depois o jogo ficou instável e rodando lindamente bem no Ultra, trazendo um visual bem bonito, por mais que o jogo seja datado. Aos poucos a Blizzard vai aumentando a configuração mínima do jogo em cada expansão, e aí os jogadores acabam tendo de fazer upgrades e investimentos no PC, pois nada dura pra sempre.
E é aí que mora uma questão mais complicada e que voltei a vivenciar na carne. Ser PC gamer é ter de abrir o bolso e pensar bem nos componentes pra escolher. A Ubisoft veio ao mundo pra mostrar que para rodar o Assassin’s Creed: Unity o jogador deverá ter pelo menos uma GTX 680, e só a placa tem preços entre 900 e 2 mil reais em sites especializados de vendas de componentes de PC, e pode sair mais cômodo pegar um console next-gen. Amigos contam pra mim que dá pra pegar um PS4 no mercado cinza por 1500 reais em lojas da Santa Efigênia (paraíso de eletrônicos em São Paulo). Aí mora o problema do PC, pois os componentes defasam muito rápido, e pra você ter uma vida confortável terá de fazer concessões e trocar componentes de tempos em tempos. O meu problema maior é que eu não sou um PC gamer totalmente hardcore: comprei o Shadow of Mordor no PC e ainda não joguei por priorizar meu tempo em outros jogos. Dos poucos jogos que joguei pra valer foram o Guild Wars 2 e o GRID: Autosport, que rodaram lindamente bem aqui sem problemas, mas que não precisam de máquinas potentes. Hoje a maioria dos jogos recentes pedem configurações “modestas”, que pedem uma GTX 560, e no Kabum você só encontra uma GTX 650TI (a mesma placa de vídeo que a minha) por cerca de 600 reais. Aí sim dá pra você trabalhar e pensar em pegar um PC com valores módicos, pensando no custo benefício. Só que aí você entra no mesmo problema do Unity: você poderá começar a ser excluído do público-alvo das empresas e terá de comprar outra placa de vídeo, gastando uma grana enorme em uma placa decente.
Fora questões de memória (eu já quis pegar um pente de 8 GB pra ter uma vida confortável) e, claro, o disco rígido, outro problema que eu achava que não iria enfrentar ao escolher um HD de 1 terabyte (1024 GB, sendo que você não tem isso de fato por conta do sistema operacional e etc, ficando entre 900 e 1024 GB livre), mas que virou um problema recorrente. Tem grana pra comprar jogo em promoção toda hora? Excelente, mas você tem espaço pra baixar tudo que compra? Jogos recentes estão pedindo de 30 a 50 GB de tamanho, exigindo conexões potentes com a internet. Eu comprei Titanfall por 30 reais numa promoção da EA, mas não tenho espaço pra baixar os 50 GB que o jogo pede! Aí eu tenho de fazer concessões, e para muitos o jogador elimina sem dó jogos que ele jogou no PC e não irá mais jogar. Mas eu tenho dó de apagar alguns games online como o Tera Rising e o Aion, que demoraram tanto tempo pra baixar e ocupam os seus, sei lá, 30 a 50 GB cada. O Lord of The Ring Online tem 18 GB ocupados aqui, e posso desencanar de vez e apagar o jogo (que baixei pelo hype dos filmes do Hobbit, mas nunca iniciei o jogo), e isso é uma decisão que sempre tomei no PS3 em casos extremos para jogar games com mais hype (como o Dark Souls II), e tenho de tomar decisões similares também no PC.
GRID: Autosport
Fora questões como os vídeos de gameplay que você grava, mas não manda pro Youtube, e aí você até encoda eles pra diminuir o espaço, mas os vídeos acumulam e você tem mais uns 50 GB dos seus 50 vídeos de gameplay de MMOs de “batalhas legais” que você travou no PvP (tipo o Guild Wars 2). Aí você tem de arrumar um HD externo pra fazer backup ou manda os vídeos pro Youtube pra mostrar pros seus amiguinhos! Nem todos tem conexões de 100 MB pra baixar um jogo em minutos, e mesmo com 5 MB o Titanfall iria comer uns 2 dias aqui de download. Fazendo pausas eu demorei de 2 a 3 dias pra baixar o Shadow of Mordor, e tenho de tomar vergonha na cara pra jogar. Pois usando uma frase de um amigo: “é foda você ter essa grana parada em jogos do Steam e não jogar tudo”. Um investimento em diversão!
Da jogabilidade, outro investimento extra é num joystick, que não vem inicialmente nos PCs, mas que acaba sendo obrigatório nos jogos mais recentes e de ação. A Microsoft conseguiu uma certa preferência nesse ponto por conta do joystick do Xbox 360 que tem cabo USB, ou usar um adaptador wireless, e aí as produtoras fazem games pensando nessa jogablidade. Mas e se eu não tiver o controle? Aqui mora as modificações e trabalhos extras do jogador, já que, no meu caso, eu decidi usar o MotionInJoy para emular um Dual Shock 3 (do PS3), mas que nem sempre funciona direito, e às vezes eu tenho dificuldades iniciais em abrir um jogo e ele reconhecer a gambiarra, se eu ligasse o PC numa TV eu teria de jogar com um cabo USB plugado no PC pra funcionar. Aí nesse caso você teria 2 alternativas: comprar um kit completo do controle oficial do Xbox 360 com adaptador wireless e bateria acoplada (pra não ter de usar pilhas recarregáveis, mas que não impede você de ter de recarregar o controle de tempos em tempos pra jogar) ou esperar mais um pouco e já pegar um kit do Xbox One, que a Microsoft irá lançar em novembro no exterior. Claro que no Xbox One o joystick extra poderá sair por um valor maior do que o kit do X360.
Ser jogador de PC hoje é cada vez mais fácil, mas que demanda um investimento inicial elevado pro jogador. “Mas consoles também não são”? Certamente que são, mas se você não ligar pra gráficos, você pode adquirir um console next-gen, mas sempre vai ficar “atrás” dos jogadores de PCs com suas máquinas fuderosas! Questões como o 4K e o 1080p que hoje são recorrentes mostram que quem tem PC e tem um monitor fodão (ou liga o PC na TV FullHD, algo que tentei inicialmente, mas não consegui) consegue ter um visual mais potente, mas tem de ter um PC master blaster de 3000 reais, ou comprar um com um valor elevadíssimo e já pegar a GTX Titan e torrar o preço de um carro num PC. Se você não liga de botar tudo Ultra você consegue até ter um “visual em 1080p” na maioria dos games que suportam essa resolução, mas aí você pode querer ligar sombras realistas, mais distância de câmera pra ver objetos distantes, mais IA, mais detalhes nas folhagens das árvores, mais FullHD, mais água, mais “céu bonito”, mais tudo!!! Aí a performance do jogo vai lá embaixo e você começa a reclamar, ou que, dependendo do seu investimento, já passa uma mensagem mental na sua frente: de ter feito uma escolha equivocada de placa de vídeo! Aí o jeito será se conformar inicialmente.
Meu PC rodando Guild Wars 2. O visual impressiona
O futuro ainda é uma incógnita nesta nova geração: você não sabe se as empresas vão começar a pedir configurações parrudas na nova geração. A Ubisoft me deixou muito desapontado ao pedir uma placa de vídeo cara para rodar o Assassin’s Creed: Unity, mas é a seleção natural: “se você não tem PC pra rodar, já era, arrume um melhor”, sendo que você pode ter torrado o orçamento de final de ano em um PC e não terá como comprar uma placa de vídeo agora, sendo que eles poderiam ter feito uma forcinha pra ter mais público, mas quiseram ser mais conservadores, forçando a galera a “ir adiante” nas configurações “next-gen”. Aí você pode acabar optando por um console, mas saberá que terá jogos exclusivos pra PC, terá muitos indies, jogos mais baratos, Steam e outros gêneros de games funcionam melhor nos PCs do que nos consoles. E para os gamers hardcore hoje, estar junto com os próximos lançamentos acaba sendo tão importante quanto acompanhar a indústria. As pessoas querem jogar os novos lançamentos, jogar online, discutir sobre isso nas redes sociais. E para muitos a pessoa deverá abrir um pouco mais o bolso. Eu comprei um PC novo pois sabia que o meu antigo não daria pra upgrades: tem questões de placa mãe melhor que aguente memórias maiores, fontes mais potentes, placas de vídeo mais potentes, tudo mais potente, etc. Mais fácil trocar a placa de vídeo com uma placa-mãe que suporte um Core i5 do que uma placa de 8 anos atrás que nem poderia ter suporte pra Pentium 4 com 3.2 GHZ.
Não me arrependo do PC que comprei e nem de ter visto que ficaria excluído em um dos principais jogo do ano, mas fiquei bem chateado em ver que foi tão rápido a questão da minha placa de vídeo ficar tão defasada em tão pouco tempo. Uma ideia que tive ao comprar meu PC atual era de trocar a placa por uma melhor quando eu visse que os jogos começassem a pedir de configuração mínima a GTX 650, mas dependendo do andar da carruagem, será mais fácil pegar um console next-gen e voltar a virar console-gamer num PS4 ou no Xbox One, e ficar com o PC pra rodar certos jogos, trocando de placa posteriormente e optando por uma placa com um valor entre 1200 a 1500 reais em uns 2 anos, quando as Geforce da série 7 (tipo a 780) estiverem mais baratas. Se a maioria dos jogos pedir essas configurações e eu não tiver um console melhor, bom, sempre tem a sua listagem de jogos do Steam que você poderá analisar e baixar pra diversão. Pois o foco inicial de todos é se divertir com games, e se não tiver PC pra rodar certos jogos e nem acesso aos consoles, você pode optar por alternativas ate conseguir um novo upgrade que caiba no seu orçamento.
E aquela velha máxima: evite fazer pré-vendas de jogos pra PC: se você não tiver confiança de que o jogo irá rodar nele, é mais recomendado esperar, pois vi muita gente que cancelou a pré-venda do Unity no PC. Ter PC é bom, mas uma hora você sempre terá de mexer nele, pois a indústria sempre irá lançar novas placas de vídeo e sempre teremos jogos mais avançados em visual. Um caminho sem volta.
Atualmente como desenvolvedor de software backend, mas já foi jornalista e editor de conteúdos por mais de 10 anos, trabalhando também em portais importantes como o START UOL, Card na Manga e A Pá Ladina, além de outros sites de esports e MMOs. Hoje cobre com especialidade jogos como Fortnite, World of Warcraft, souls-likes, animes, games, cultura pop e é fã de cosplays!