É óbvio: um game online não tem um “zeramento” propriamente dito. Pela natureza do game, você joga e joga e joga infinitamente, enquanto os servidores durarem ou enquanto durar a sua vontade de jogar (ou a sua paciência). Em World of Warcraft, no momento, o climax do game está na Alma Dragônica. A raide final do game se resume a 8 lutas intensas contra chefes e seus lacaios, e por mais incrível que pareça, foi menos cansativa que a Cidadela da Coroa de Gelo, a raide final da expansão anterior (Wrath of Lich King). Talvez por ter usado o localizador de raides, deixando a raide mais acessível para os iniciantes, talvez por só ter encontrado gente overpower, diminuindo o tempo das lutas. Fracionar o localizador também em 2 partes acaba ajudando, podendo dividir o trampo em 2 dias (ou fazer tudo de uma vez também), de acordo com o tempo que o jogador tem. O objetivo do localizador era justamente que aqueles sem tempo pra “marcar hora” pudesse fazer o mesmo conteúdo final. De desvantagens: os ítens adquiridos são menos poderosos que nas versões normais e, tal como qualquer raide, existe o vínculo semanal: você só pode fazer a mesma raide 1 vez por semana.
Ter “zerado” o game dá um sentimento de missão cumprida nesses 4 meses jogando o game de maneira hardcore. Level 85, com equipamentos razoavelmente decentes e mais de 430 horas dedicadas. Daria pra gastar menos tempo? Com certeza, pois existem diversos atalhos: dungeon finders, fazer quests diárias de eventos mundiais, fazer as quests de nível equivalente e sempre desconectar nas cidades, ficando “descansado” e deixando a barra de experiência azul, dobrando a experiência adquirida até você “cansar” e ganhar o valor normal. Dicas que muitos jogadores iniciantes desconhecem, fora que sempre tem outras. A ciência do “levelling”, com dezenas de tutoriais na internet e guias pagos.
Apesar da missão cumprida, também tem a frustração, principalmente da parte técnica e da parte social. Por não ter um PC potente e nem uma internet legal (2 MB, sendo que é o máximo que a Oi oferece na minha casa) eu tive muitas dificuldades em jogar na raide. Ficou muito, muito lento, prejudicando o gameplay, o que resultou na minha expulsão. Na primeira parte foi até tranquila, apesar do game ter ficado lento num ataque de eletricidade da Hagara, mas na segunda o grupo falhou na última parte. Um brasileiro (não é brincadeira, e por isso que somos mal-vistos lá fora…) linkou dados do add-on Recount, e fiquei em último na contagem. Logo em seguida ele pediu um Kick e alguns segundos depois eu estava de volta na cidade.
Bateu aquele sentimento de mimimi inicialmente. Eu tinha equipamentos decentes e estava com tudo em ordem pra poder participar, mas aí vem algo que fica enraizado na mente da maioria: uma ditadura de “você não está sabendo jogar direito na sua classe” e “seu dano por segundo está baixo”. Tópicos enchem na internet falando isso, tem a tal da “rotação” de habilidades que você usa durante a luta, e que Hunter (a minha classe principal do meu personagem oficial) “não tem” essa tal de rotação. Que Beast Master (a sub-classe que mais usei no game) é a que menos oferece dano nos inimigos numa raide ou masmorra mais potente e que você tem de trocar para Sobrevivência (Survival) para ter mais DPS. Durante todo esse tempo eu conseguia me divertir a beça e fiquei muito metódico, mudando pouca coisa pra melhorar e descobrindo maneiras mais eficientes de jogar, mas depois dessa você descobre que para jogar você tem um feijão com arroz único e que se você não fazer a mesma coisa, você está fadado ao fracasso e aos kicks dos aleatórios que estão na raide. Nunca fui expulso de uma dungeon por conta de estar causando pouco dano nos inimigos. Se é um grupo todos se ajudam correto? Sim, mas nem todos pensam assim.
Nesse ponto o Dark Souls e o Skyrim são melhores. No Dark, por ser algo mais voltado para escudo e espadada, você aprende a jogar uma mecânica simples e se dá bem sabendo desviar e atacar na hora correta. Se você falha ao ajudar alguém você não toma uma punição (e olha que o Dark tem o sistema de punição mais sádico dos RPGs). No Skyrim, apesar de não ter jogado, é baseado na escolha do jogador e as habilidades são evoluídas de acordo com a jogabilidade que você faz. No World of Warcraft você distribui os seus pontos de habilidades em 3 tipos de árvores de talentos (árvores que serão eliminadas na próxima expansão), o que dita um pouco no que você faz. Pelo menos no World of Warcraft você pode resetar tudo e redistribuir os pontos (com um preço em ouro), diferente dos outros 2 games, onde você tem de conviver com as suas escolhas pelo resto do game.
Depois da expulsão, eu deixei um pouco pra lá e tentei novamente. Na segunda tentativa, na segunda luta da segunda parte, novamente fiquei em último e outro brasileiro pediu pra me expulsar:
Desta vez eu pedi para ficar, falando que era a primeira vez na raide e que eu daria o melhor de mim nela. Alguns inspecionaram os meus equipamentos e falaram que eu estava com equipamentos ruins e que deveria ter equips melhores, mas deixaram pra lá. Consegui completar a Alma Dragônica pelo localizador, apesar de ter perdido a última cena por conta justamente do medo de ser kickado e não conseguir ter chance de disputar os ítens dela. Isso até corrobora com um comentário de um amigo: “raid finder é uma disputa pra quem fica no topo do Recount”. Difícil discordar dessa afirmação.
É até desanimador pensar em fazer a raide novamente depois, por conta dos problemas técnicos que enfrentei E de ter gente que vai pedir pra te expulsar se você não jogar direito, tendo de ser perfeito. O maior problema do game é que você demora muito tempo pra conseguir se equipar decentemente, e muitos não tem tempo ou paciência para jogar semanas para ter um equipamento mínimo para satisfazer a perfeição de outros. A melhor maneira de diminuir um pouco o tempo é ir pro PvP (jogador vs jogador) e comprar equipamentos com a “moeda de honra”, o que não é tão demorado. Neste último final de semana consegui comprar 2 equipamentos, tendo a sorte de ganhar todas as partidas de PvP que fiz e ter feito tantas masmorras que juntei muitas “moedas de justiça”, trocando por honra. Fora a própria receita de bolo das habilidades que você usa, e aí eu tinha de me preocupar com os botões na tela e de tentar maximizar todos os ataques que eu fazia, me deixando confuso e jogando pior. É nesse ponto que o World of Warcraft perde a sua diversão e desanima aquele jogador casual que praticamente virou um jogador hardcore.
Atualmente como desenvolvedor de software backend, mas já foi jornalista e editor de conteúdos por mais de 10 anos, trabalhando também em portais importantes como o START UOL, Card na Manga e A Pá Ladina, além de outros sites de esports e MMOs. Hoje cobre com especialidade jogos como Fortnite, World of Warcraft, souls-likes, animes, games, cultura pop e é fã de cosplays!